Pedagogia feminista e letramento em direitos humanos na periferia: possibilidades para o empoderamento de meninas e jovens mulheres com o esporte

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Novais, Mariana Cristina Borges lattes
Orientador(a): Mourão, Ludmila lattes
Banca de defesa: Oliveira, Ayra Lovisi lattes, Jacomé, Alexandre José Pinto Cadilhe de Assis lattes, Maroun, Kalyla lattes, Martins, Mariana Zuaneti lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso embargado
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Educação Física
Departamento: Faculdade de Educação Física
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/18150
Resumo: A tese investiga as possibilidades de empoderamento de meninas e jovens mulheres moradoras em territórios periféricos e favelizados com foco no Programa "Uma Vitória Leva à Outra" (UVLO), promovido pela Organização Não-Governamental (ONG) Empodera, em parceria com a ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional. O trabalho examina o impacto do Programa UVLO na formação crítica e emancipatória das participantes, por meio da pedagogia feminista e do letramento em direitos humanos que ocorrem em diálogo indissociável com as práticas corporais e esportivas, para o enfrentamento às desigualdades de gênero e promoção da justiça social. Desse modo, este estudo tem como objetivo principal descrever e analisar como as ações do UVLO contribuem para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais que fortalecem a autonomia e o protagonismo das meninas e jovens mulheres, especificamente do território favelizado da Cidade de Deus, na cidade do Rio de Janeiro. O Programa busca a redução de estereótipos nocivos de gênero, o acesso ao conhecimento sobre saúde, direitos e combate às violências contras as mulheres, e o fortalecimento de uma cultura de direitos, valorizando as vozes e experiências das participantes e das profissionais que nele atuam. A pesquisa é de abordagem qualitativa e interpretativa, pautada nos pressupostos da Antropologia por Demanda e composta por procedimentos como observação participante, entrevistas semiestruturadas e análise documental. As entrevistas e observações, realizadas tanto em contexto virtual quanto presencial, foram transcritas conforme as normas vigentes e registradas em diário de campo, respectivamente. Tais instrumentos permitem o registro das interações estabelecidas e de minhas percepções sobre o Programa, na perspectiva de subsidiar as análises sobre a influência das ações do UVLO nas vidas das participantes. Os métodos inspiram-se em princípios da perspectiva decolonial, crítica e feminista, enfatizando a participação ativa e a escuta atenta das vozes das próprias participantes no processo de coleta e análise dos dados. Os resultados apontam que o UVLO tem um impacto positivo na mobilização dasidentidades feministas negras, promovendo o fortalecimento de uma rede de apoio feminista e o desenvolvimento de habilidades de liderança e de enfrentamento às opressões de gênero e raça, principalmente. O Programa conseguiu criar um espaço seguro de escuta e valorização das vozes das meninas e jovens mulheres, incentivando reflexões críticas sobre suas condições sociais e por conseguinte, alimentando seus processos de empoderamento; foi capaz também de promover o letramento em direitos humanos, estabelecendo diálogos diretos e indiretos com o esporte, enquanto um direito social que precisa ser garantido às meninas e jovens mulheres em condições equitativas. Além disso, houve um aumento na percepção de pertencimento e na consciência dos direitos, que se refletiu em atitudes mais assertivas e mobilizações no rumo de maior participação social e política em prol de questões feministas ligadas principalmente ao esporte. O UVLO, portanto, através da parceria entre pedagogia feminista e práticas esportivas, desempenha um papel essencial no empoderamento de meninas e jovens mulheres em territórios periféricos e favelizados. A experiência revela que a combinação de esporte com educação em direitos humanos não apenas amplia o acesso das mulheres à prática esportiva, mas também contribui para a formação de uma cidadania crítica, ativa e participativa. Assim, o Programa UVLO destaca-se como um modelo de intervenção social que pode inspirar políticas públicas voltadas ao empoderamento feminino e à promoção da equidade de gênero, suscitando também importantes reflexões sobre o papel das ONGs e do esporte no combate às desigualdades estruturais, ante as negligências não inocentes do Estado no tocante às suas atribuições inatas e também frente ao contexto específico dos territórios periféricos e favelizados da cidade do Rio de Janeiro, cujos poderes paralelos do tráfico e das milícias exigem uma atuação em rede ainda mais complexa e articulada. É preciso ponderar que o reconhecimento do sucesso das ações do Programa UVLO e do trabalho da ONG Empodera não significa alienação quanto ao movimento de transferência de responsabilidades promovido pela estrutura social que serve a um sistema que é racista, capitalista, neoliberal e de ordem globalizada.