“Comer normalmente arroz no café da manhã”: análise autoetnográfica de Um Diário de Viagem

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Rocha, Jéssica Regina de Castro Vieira da lattes
Orientador(a): Weiss, Denise Barros lattes
Banca de defesa: Rocha, Luiz Fernando Matos lattes, Telles, Luciana Pilatti lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/16944
Resumo: O presente estudo foi desenvolvido na linha de pesquisa “Linguagem e Humanidades” do Programa de Pós-graduação em Linguística (PPG-Linguística) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Intenciona-se refletir sobre a condição de estrangeiro por meio da análise de um diário produzido em uma situação de intercâmbio acadêmico. Posicionando-se como uma pesquisa qualitativa de caráter autoetnográfico, buscou-se, primeiramente, explicar a pesquisa autoetnografia que, fugindo da epistemologia positivista, toma a análise da experiência do próprio pesquisador na compreensão das relações sociais estabelecidas em determinado contexto (González, 2020; Chang, 2008; Adams e Herrmann, 2020; Santos, 2017). A pesquisa toma como objeto os relatos da Pesquisadora enquanto Viajante, registrados em um diário manuscrito, escrito durante uma viagem de intercâmbio internacional. Para a análise, pretendeu-se posicionar a escrita de diário como um gênero narrativo discursivo, discorrendo sobre o gênero diário, as narrativas de viagem e apresentando o diário em questão (Buzzo, 2010; Machado e Pageaux, 1988). Posteriormente, buscou-se refletir sobre a condição de estrangeiro (Simmel, 1989; Schütz, 2010; Kristeva, 1994), considerando as concepções de cultura (Hernández, 2008; Duranti, 1997) e de identidade cultural (Bauman, 2005, 2008; Cuche, 1999; Hall, 2005). A partir da leitura completa do diário, compreendemos o processo de adaptação intercultural (Lysgaard 1955) durante os aproximados cinco meses de estadia da Viajante, considerando as visões de cultura observadas no texto do Diário ao longo do tempo. Juntamente também identificamos a presença da interlíngua (Ellis, 2003), devido à constante presença do espanhol ao longo do escrito, havendo tanto interferências lexicais quanto gramaticais. Como resultados, observamos que o processo de adaptação da estrangeira segue as quatro etapas da curva em U de Lysgaard (1955). A primeira fase, a da Lua de mel, foi o momento de exploração, que durou cerca de dois meses. Nela podemos destacar a busca da Viajante por explorar o local, notando tudo o que lhe parece positivo. Nessa fase, a cultura é tida como passível de ser aprendida e, pelo estranhamento, ela também considera cultura como sistema de práticas, relacionada ao habitus (Bourdieu, 1998). Em seguida veio o período mais longo, de mais de dois meses: o da Crise, em que a Viajante é abatida por um sentimento de solidão. Nessa fase os registros mostram que ela passa a ver a cultura local como comunicação, e, diferentemente da primeira etapa, ela sente a impossibilidade de aprendê-la. Posteriormente a Viajante adentra no período transitório da Redescoberta que, por sua brevidade e escassez de dados, não teve detalhada análise. Finalmente, adentrando então, já nos últimos dias, chega ao estágio do Ajuste, no qual há, por fim, uma habituação por parte da Viajante, sendo a cultura entendida novamente como algo apreensível e aprendido por ela. Com relação à interlíngua, não foi observada claramente uma relação entre as etapas da adaptação e sua presença, estando os elementos de interlíngua presentes em ordem alternada ao longo dos dias de escrita. Para a análise, foram divididas as interferências lexicais, como o uso de palavras próprias do espanhol e, até mesmo a risada, e gramaticais, como a colocação pronominal do idioma aprendido. O estudo concluiu que, apesar dos poucos dados quanto à fase da Redescoberta, o processo de adaptação da Viajante acompanhou as etapas da curva e a interlíngua não acompanhou esse processo, sendo sim, intensificada ao longo que o contato com o idioma aumentava.