Entre o um e o dois: Mestre Eckhart e o aberto da Abgeschiedenheit

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Souza, Adriana Andrade de lattes
Orientador(a): Teixeira, Faustino Luiz Couto lattes
Banca de defesa: Berkenbrock, Volney José lattes, Loundo, Dilip lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/1901
Resumo: O tema central deste trabalho, “Entre o um e o dois: Mestre Eckhart e o aberto da Abgeschiedenheit” baseia-se na compreensão de que o pensamento eckhartiano acerca do desprendimento (Abgeschiedenheit) oscila entre três dimensões. Uma destas dimensões se refere ao que se poderia chamar uma “pedagogia” da conversão, na qual está em jogo a necessidade do esforço do homem em desapropriar-se de si mesmo. Outra dimensão do desprendimento seria a compreensão da busca da identidade com Deus como um “em si”, ou seja, como dádiva previamente dada, assim expressa nas palavras de Eckhart: “o fundo da alma e o fundo de Deus são um fundo.” A partir desse permanecer em si, o desprendimento ainda se descobre em uma dimensão vivida, ou seja, trata-se de um permanecer “em si”, no próprio da ação sem porquê, tal como é expresso na célebre frase eckhartiana: “frutificar a dádiva é a única gratidão para com a dádiva.” Assim compreendido, o desprendimento revelase como uma negação da negação, que é pura afirmação sem porquê, a que neste trabalho chamamos o aberto da Abgeschiedenheit. O “sem-porquê” é a dinâmica de retração na qual a Deidade se mantém ao criar o mundo. O próprio do pensamento de Eckhart é que essa dinâmica se estende imediatamente à existência humana, pelo ser uno de homem e Deus no fundo. Tornar-se interior no fundo da alma significa, para o homem, desprender-se da perspectiva de dualidade própria do seu ser criado, para tornar própria a pureza que não é, nas palavras de Eckhart, “nem no mundo, nem fora do mundo.” Ou seja, aquela pureza do fundo da Deidade da qual é próprio um brotar-se em si mesmo – sem nenhum porquê. O “semporquê”, em Eckhart, é essa idéia que diz não ser o desprendimento somente uma interiorização extática, mas plenitude efetiva, bem exercitada – muito mais do que só de dentro. Para nós, este é o modo como Eckhart une um dos grandes temas dos místicos renanos, a saber, o fundo sem fundo da Deidade e a abertura sem porquê, ao tema maior do nascimento de Deus na alma – nascimento que implica uma reciprocidade, porque a alma só é verdadeiramente bem-aventurada quando em retorno ela “gera Deus”. Esse “gerar” é o cumprimento da perspectiva da Deidade na existência humana, é o “sem-porquê” vivido. É o caminho do distinto à pura indistinção de Deus (da Abgeschiedenheit) em seu brotar-se em si mesmo – o caminho de volta para dentro da vida vivida.