“E aí a minha bisavó venceu a cativaria”: tec(ss)itura das fontes orais e escritas em torno das comunidades quilombolas Córrego do Meio e Chácara, Paula Cândido/MG

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Dias, Tailane de Oliveira lattes
Orientador(a): Castro, Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de lattes
Banca de defesa: Andrade, Mateus Rezende lattes, Monteiro, Lívia Nascimento lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em História
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/17104
Resumo: Tecendo fio por fio das memórias da cativaria e da liberdade com as fontes escritas, este trabalho percorre espaços e tempos vivenciados por escravizados e senhores e seus descendentes, principalmente do século XIX aos dias atuais, permitindo compreender como a pequena sociedade escravista e pós-escravista de São José do Barroso (antigo nome de Paula Cândido) se formou e se desenvolveu ao entorno das comunidades quilombolas Córrego do Meio e Chácara. A partir de um olhar ao microscópio, evidencia-se o movimento migratório de uma parte das elites do local e o papel das famílias senhoriais como lócus de riqueza e de poder; bem como os processos de desenraizamento e reelaboração identitária dos próprios escravizados. Dentro da perspectiva da história social da escravidão e do pós-abolição, lança reflexões sobre os “passados-presentes” que conformaram tal realidade, através do conceito de paternalismo, analisado sob olhares micro e macro-analíticos. Os padrões sociais construídos sobre tais amarras oscilavam entre o controle senhorial e as margens de autonomia dos escravizados, cujas raízes profundas estão na identificação da formação de famílias cativas, na construção de laços de compadrio e da participação em momentos festivos e religiosos. Interligando tão intimamente senhores e escravizados, esse padrão possibilitava a negociação do próprio direito de existir de uma maneira minimamente digna, como na formação de uma pequena comunidade por estes, cujas memórias afetivas foram reconstituídas. Da cativaria ao pós-abolição, a compreensão desta temporalidade foi possível principalmente a partir das narrativas orais, tanto de descendentes de escravizados quanto de fazendeiros (sendo que estas últimas narrativas dizem respeito apenas à história do Córrego do Meio), revelando como é tênue a linha entre ambos, uma vez que se prolongou uma realidade de injustiças e desigualdades. Já com as mudanças em curso com a titulação quilombola é possível problematizar as possibilidades abertas para romper com as relações paternalistas. Amparados nos pressupostos da micro-história italiana e também da história oral, ao firmarem um compromisso com a escrita da história popular, este trabalho procura contribuir para a reflexão sobre o direito à história e à memória de afrodescendentes, em grande parte possível mediante um processo de subversão do silêncio das fontes – silêncios estes condicionados pelas relações de força do passado e por processos delicados no que diz respeito à transmissão da memória de histórias sensíveis. Conscientes de que na roda da memória de ambas as comunidades quilombolas ainda há muitos fios por fiar, este trabalho deixa vários fios soltos a espera de fiadeiros que continuem tecendo estas histórias e memórias.