Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Daroda, Larissa Silva Leitão
 |
Orientador(a): |
Magaldi, Carolina Alves
 |
Banca de defesa: |
Miotti, Charlene Martins
,
Pereira, Prisca Rita Agustoni de Almeida
,
Steil, Juliana
,
Costa, Natasha Vicente da Silveira
 |
Tipo de documento: |
Tese
|
Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
|
Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
|
Departamento: |
Faculdade de Letras
|
País: |
Brasil
|
Palavras-chave em Português: |
|
Área do conhecimento CNPq: |
|
Link de acesso: |
https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/17065
|
Resumo: |
No espectro da produção intelectual e artística do extraordinário Machado de Assis, o aspecto menos discutido talvez seja o seu trabalho como tradutor literário. Machado traduziu para o português total ou parcialmente 48 obras de originais franceses, ingleses e alemães e realizou diversas alterações estilísticas e semânticas nesses textos literários. A questão que motivou esta pesquisa é se essas modificações estilísticas foram feitas com base em seu próprio estilo de escrita, entendido a partir das perspectivas de Malmkjaer e Taivalkoski-Shilov. Para Malmkjaer (2004), estilo é a regularidade consistente e estatisticamente significativa de ocorrência de termos ou estruturas em um texto entre todos aqueles disponíveis em uma língua. TaivalkoskiShilov (2013) argumenta que a escrita de um autor incorpora suas posições sociais e discursivas, bem como seu estilo, e que os tradutores também têm sua própria presença discursiva em um texto. Os objetivos desta investigação foram, dessa forma, identificar quantitativamente, por meio da linguística de corpus, parâmetros estilísticos textuais de quatro corpora especialmente construídos para fornecer dados sobre a escrita literária e a prática tradutória brasileira no século XIX, bem como analisar qualitativamente os parâmetros estilísticos das traduções de Machado em comparação à sua produção autoral. A estrutura dos quatro corpora foi formada por: quatro traduções em prosa feitas por Machado de Assis; seus dez romances; sete traduções contemporâneas às feitas por Machado; onze romances dos demais escritores do cânone brasileiro do século XIX. Sua construção envolveu extensa pesquisa de campo no acervo físico da Biblioteca Nacional, incluindo o setor de obras raras, pois diversas obras não estavam digitalizadas na sua integralidade. Além disso, o escrutínio da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional foi essencial para descobrir os textos-fonte correto e as primeiras edições das traduções publicadas em periódicos. Paralelamente, buscou-se identificar a possível influência de processos de tradução indireta e escrita criativa nas traduções, utilizando preceitos da crítica genética de Bowman (1990), buscando delinear, dentro do possível, a voz do tradutor Machado de Assis no domínio de suas obras traduzidas. Para a abordagem quantitativa foi adotada a análise completa dos textos em fase inicial, bem como uma amostragem de primeiros capítulos para a etapa que necessitou de marcação automática e revisão manual antes da execução do concordanciador, programa que faz correspondência entre palavras e seus contextos, permitindo busca em corpus de grande extensão. A análise qualitativa foi feita através do cotejamento entre as traduções machadianas para “Trabalhadores do mar”, “Suplício de uma mulher”, “Queda que as mulheres têm para os tolos” e “Oliver Twist” e seus múltiplos textos-fonte, segundo critérios de análise estilística de Nord (2016), Leech e Short (2007 [1981]) e os estilemas machadianos de Carvalho (2010). Os resultados demonstraram que houve importantes transformações estilísticas nas traduções de Machado de Assis em relação aos seus textos-fonte em inglês e francês, em especial o abrasileiramento das obras estrangeiras — para a qual se pode propor o termo “machadiamento” das obras —, a concisão textual e as alterações semânticas resultantes. Percebeu-se, através das análises quantitativas e qualitativas, que houve mudanças estilísticas na tradução de Machado de Assis que se situaram próximas à sua escrita autoral. Verificou-se, ainda, que a perspectiva machadiana sobre tradução vai além do texto, revelando uma visão aguçada das entrelinhas culturais e estilísticas das obras que ele se propunha a traduzir. Além disso, o contato com autores, culturas e estilos diferentes parece ter impactado suas traduções, retroalimentando sua produção autoral, em uma prática que propomos conceituar como tradução alimentar. |