Olhar redentor aos ínvios sertões mineiros: a campanha do saneamento rural (1916 - 1927)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Souza, Wenderson Almeida de lattes
Orientador(a): Batella, Wagner Barbosa lattes
Banca de defesa: Machado, Pedro José de Oliveira lattes, Chrysostomo, Maria Isabel de Jesus
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Geografia
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://doi.org/10.34019/ufjf/di/2022/00373
https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/14744
Resumo: O Brasil republicano do início da centúria do XX ainda se apresentava como um vasto território não urbanizado, constituído por populações rurais de brasileiros “meio selvagens”, visivelmente habitantes da barbárie e do atraso. Os quadros geográficos e as populações de “dentro” se apresentavam dessa forma para as elites que, ao assumir uma perspectiva urbana da costa, negavam o Brasil “real”. Assim, dentro de um contexto de acirramento do ímpeto nacionalista e de raça, a questão da brasilidade a partir dos intelectuais brasileiros começa a ganhar força, consubstanciada por diversos temas, especialmente, para fins dessa pesquisa, o tema da promoção da saúde. Um dos esforços de reconstrução da identidade nacional partirá do movimento conhecido como campanha pelo saneamento rural a partir de 1916, que buscou mobilizar e popularizar soluções político-institucionais para modificar as condições das populações acometidas pelas endemias rurais e, por consequência, tornar o Estado o guardião dos rumos da nação, baseada em valores morais republicanos. Nos interessou detidamente como as ideias sanitaristas encontraram em Minas Gerais outros agentes, questões políticas, sociais, sanitárias e econômicas, isto é, como as ideias se contextualizaram e se materializaram diferentemente nesse estado da federação. Em contrapartida, o ano de 1927 se caracterizou como um dos últimos anos onde efetivamente o debate do saneamento se deu via fontes oficiais do governo do estado de Minas Gerais. No mesmo ano, a Diretoria de Higiene do Estado, órgão responsável pelo saneamento rural, era reformulada e extinta em suas funções públicas. A partir dos alicerces teórico-metodológicos da geografia histórica, elaboramos, na presente dissertação, uma compreensão histórico-geográfica dos discursos mobilizados pela campanha do saneamento rural na construção de um projeto territorial no estado de Minas Gerais, tendo por base as fontes da imprensa periódica d’O Pharol, os Relatórios da Diretoria de Higiene do Estado de Minas Gerais e os Relatórios dos Presidentes do Estado de Minas Gerais. A principal indagação da pesquisa foi a seguinte: de que forma os discursos que foram mobilizados para a campanha do saneamento rural, presentes em fontes da imprensa e do governo do estado, legitimam a constituição de um projeto territorial para Minas Gerais no período de 1916 a 1927? O primeiro capítulo discute as ideias geográficas presentes no discurso higienista no Brasil entre fins do século XIX e início do XX. No segundo capítulo, buscamos compreender os contextos e ideias a partir do fortalecimento da saúde pública na figura do Instituto Oswaldo Cruz e seu legado para o conhecimento da realidade sanitária dos sertões brasileiros; o imaginário de sertão construído como ideologia geográfica tendo como base o Relatório Neiva-Penna e, por fim, analisamos as interlocuções do movimento sanitarista em um contexto de Estado autoritário- assistencialista. O capítulo três versa sobre o universo das fontes documentais necessárias à investigação histórico-geográfica do fenômeno em tela, a política mineira na Primeira República e a estrutura e estado sanitário de Minas Gerais anteriores a 1916. Por fim, no capítulo quatro, compreendemos as diferentes fases da campanha do saneamento rural no estado via fontes primárias. De um primeiro momento com discursos centralizadores e acordos firmados, passando pela divisão do estado em distritos sanitários enquanto estratégia espacial da higiene estadual, até a posterior construção de postos de profilaxia rural, hospitais regionais e obras sanitárias. Analisamos toda essa infraestrutura material criada, indissociável das imaterialidades do fenômeno campanhista, e compreendemos que a campanha do saneamento rural participou ativamente da produção e reordenamento territorial do estado nesse começo de século XX, ao alicerçar seus discursos e ações na máxima “sanear o solo, higienizar e educar o povo” como condição essencial para o progresso econômico, moral e civilizacional de Minas Gerais. O método misto possibilitou o emprego de técnicas qualitativas e quantitativas nos procedimentos de busca, consulta, coleta e análise do amplo universo documental referente à temática do saneamento rural.