Diferenças na assimetria flutuante e na massa de fígados em uma população de anfíbios afetada pelo maior desastre ambiental do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Reis, Juliana Correia lattes
Orientador(a): Nali, Renato Christensen lattes
Banca de defesa: Kienle, Mirco Solé lattes, Eterovick, Paula Cabral
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós Graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza
Departamento: ICB – Instituto de Ciências Biológicas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://doi.org/10.34019/ufjf/di/2023/00062
https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/15871
Resumo: O maior desastre ambiental brasileiro ocorreu em novembro de 2015 com o rompimento da barragem de Fundão (Mariana, MG). Na ocasião, foram lançadas toneladas de rejeitos de minério nos ambientes terrestres e aquáticos, o que levou a altas concentrações de metais pesados e expôs os organismos a diferentes níveis de toxicidade, incluindo os anfíbios. Devido à alta susceptibilidade a agentes químicos e ao ciclo de vida aquático/terrestre da maioria dos anfíbios, animais deste grupo podem elucidar evidências de contaminação através da variação em atributos utilizados como indicadores de estresse, como os desvios na estabilidade do desenvolvimento (e.g. assimetria flutuante - AF) e alterações no tamanho de órgãos responsáveis por filtrar substâncias tóxicas (e.g. fígado). Neste estudo, analisamos o impacto do rompimento da barragem de Fundão através da avaliação da assimetria flutuante e da massa do fígado de indivíduos de Boana albopunctata (Anura: Hylidae). Utilizamos espécimes pósmetamórficos coletados antes do desastre (2014) e em dois momentos após o desastre (2018 e 2022) em uma fazenda no município de Barra Longa (MG), por onde os rejeitos passaram. Mensuramos 12 estruturas bilaterais em cada indivíduo e calculamos índices de AF para cada estrutura, seguindo um protocolo que analisa o tipo de assimetria existente e o tamanho do erro de medição. Extraímos o fígado de cada indivíduo e pesamos com uma balança analítica. Comparamos, então, os índices de AF e massa dos fígados entre os três anos distintos, esperando observar maiores índices de assimetria flutuante e maior massa dos fígados após o desastre. Do total de traços mensurados, três deles apresentaram AF e os demais foram excluídos das análises subsequentes após detecção de erros de medição, assimetria do tipo direcional e/ou antissimetria. Espécimes coletados em 2022 apresentaram um índice de AF na área do tímpano menor do que em anos anteriores. Isso pode estar relacionado à seleção de indivíduos com tímpanos simétricos sete anos após o acidente, pois já foi demonstrada a importância deste fator na fonotaxia de fêmeas de anuros para cantos de machos. Por outro lado, observamos um aumento da massa dos fígados dos indivíduos após o acidente, especificamente na comparação entre 2014 e 2022, o que sugere a resiliência da função deste órgão nos indivíduos e em seus descendentes após exposição aos rejeitos. Embora os resultados observados possam ter sido influenciados por processos ecofisiológicos não mensurados, demonstramos, pela primeira vez, que o desastre ambiental da barragem de Fundão causou respostas diferenciadas em uma população de anfíbios em ambiente natural. Nosso estudo enfatiza que os efeitos da mineração em organismos podem ser multifacetados, indicando a necessidade de conduzir estudos detalhados com os diversos grupos afetados para compreender a magnitude deste e de outros desastres similares.