Resumo: |
Entre 2003 e 2013, a economia brasileira passou por um ciclo de expansão da liquidez monetária, propulsionada pelo aumento do crédito ao setor privado. Nesse período, a razão entre crédito e Produto Interno Bruto atingiu níveis nunca observados anteriormente. Houve um aumento do endividamento das firmas, que passaram a utilizar - em média - mais recursos de terceiros no financiamento de suas atividades. Por outro lado, as taxas de juros brasileiras mantiveram-se entre as mais elevadas do mundo. Isso levanta questionamentos sobre os efeitos do acesso ao crédito no desempenho das firmas, em termos de produtividade. Nesse contexto, o presente trabalho tem o objetivo de analisar a relação entre o grau de financiamento de terceiros e a produtividade das firmas brasileiras de capital aberto. A medida de produtividade utilizada advém dos modelos de fronteira estocástica de produção. Para cada firma, mensurou-se o desvio da produção realizada em relação à capacidade potencial, estimada a partir do vetor de fatores observado. Esse vetor contempla o estoque de capitais tangíveis e intangíveis e a mão-de-obra qualificada e não qualificada. Nesse sentido, estimou-se a relação entre os desvios, que representam a perda de produtividade, e a variável de financiamento de terceiros, dada pela proporção entre o crédito obtido e o valor do ativo total. A estimação dos parâmetros foi realizada com corte setorial, como forma de controlar aspectos tecnológicos e choques externos, aos quais cada setor está sujeito. Concluiu-se que o financiamento de terceiros é significativo para explicar a produtividade em grande parte dos setores. No entanto, a direção do efeito varia entre as atividades. Nos setores industriais (exceto o de construção), graus mais elevados de financiamento reduzem em média a produtividade. Na agropecuária, serviços, infraestrutura e construção, graus mais elevados de financiamento aumentam em média a produtividade. No setor de comércio, não há evidências consistentes que a relação seja significativa. Argumenta-se que a direção dos efeitos está relacionada à dinâmica de mercado das atividades e à própria estrutura produtiva de cada setor. |
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