“A gente quer dizer que a gente existe”: a geograficidade dos colonos da Fazenda da Fortaleza de Sant’Anna (Goianá, MG) a partir da relação topofílica com o lugar

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Souza, Naiara Thais Alves de lattes
Orientador(a): Santos, Altair Sancho Pivoto dos lattes
Banca de defesa: Malta, Guilherme Augusto Pereira lattes, Dias, Juliana Maddalena Trifilio lattes, Deus, José Antônio Souza de lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Geografia
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/17056
Resumo: Este trabalho enuncia o amor pelo lugar, o vínculo com a terra, a existência dos sujeitos chamados de colonos e os laços afetivos que os conectam à Fazenda da Fortaleza de Sant’Anna. Contudo, além do amor pelo lugar, será apresentado também o medo de o perder. Isso porque, indicando sinais de ameaças nos exercícios de sua territorialidade a partir da inserção de novos agentes territoriais no lugar, os colonos sentiram a necessidade de enunciar a sua própria existência dizendo a frase que intitula este trabalho: a gente quer dizer que a gente existe. Nesse sentido, os esforços investigativos dessa pesquisa seguiram a direção de compreender as mudanças nos exercícios de territorialidade e nos sentidos de lugar dos colonos na Fazenda da Fortaleza de Sant’Anna após a ocupação desse território pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 2010. Para tanto, foram utilizados referenciais teóricometodológicos pautados na Geografia Humanista-Cultural a fim de que essas abordagens pudessem contribuir com o entendimento do “ser” e do “existir” dos colonos de Sant’Anna. Nessa busca consideraram-se as experiências socioespaciais e os vínculos identitários e territoriais dos colonos, considerando-se, então, suas práticas materiais e imateriais reveladoras de subjetividades, sentimentos e visões a respeito dos seus lugares na Fortaleza de Sant’Anna. É nesse sentido que os conceitos de lugar, na perspectiva da abordagem Humanista-Cultural da Geografia, assim como, o de topofilia e o de geograficidade, dos geógrafos humanistas Yi-Fu Tuan e Eric Dardel, foram fundamentais para a compreensão da ligação dos colonos com a terra. Foi utilizado, também, o conceito de território (e suas variações) a partir das reflexões de Rogério Haesbaert, a fim de que se pudesse compreender a questão referente aos exercícios de territorialidade dos colonos de Sant’Anna. Metodologicamente, a pesquisa envolveu uma investigação qualitativa e de caráter exploratório, que se apoia em dois pilares fundamentais: o levantamento documental e a pesquisa de campo, esta por meio de entrevistas em profundidade e aquela por meio de pesquisas de fontes primárias a respeito da Fazenda e dos colonos. À vista disso, serão apresentados nos resultados da pesquisa documental “o como” e “o porquê” de os colonos se aproximarem da Fortaleza de Sant’Anna para ali constituírem sua história e sua geograficidade. E, nos resultados da pesquisa de campo, serão apresentados os principais apontamentos dos colonos a respeito de seus lugares de afeto e das mudanças ocasionadas a partir do processo de desapropriação da Fazenda pelo MST. Pode-se concluir que as conexões que os colonos de Sant’Anna têm com essas terras estão relacionadas não só ao seu passado, mas, também, ao passado dos que os antecederam em Sant’Anna. Conclui-se, ainda, que o modo como o MST promove a ocupação, atrelada à postura dos antigos proprietários diante dos seus funcionários na ocasião, provocou a autoafirmação da identidade e o reforço do amor desses moradores pelo lugar no plano da consciência. Ademais, esse marco histórico e territorial para os colonos trouxe mudanças tanto positivas quanto negativas, os quais são um aspecto intrínseco a todo processo de ruptura. Todavia, tais repercussões, positivas ou não, demostram ter mudado consideravelmente os lugares de afeto desses sujeitos. Foi constatado na pesquisa o surgimento de um lugar de tristeza comum a todos os colonos entrevistados e o risco de um apagamento cultural, ameaçando, assim, a perpetuação da existência desse povo.