Educar sobre o estupro, educar sobre a diferença: a redefinição do estupro e a reivindicação de não violência na apropriação e construção do conceito de cultura do estupro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Melo, Iuli do Carmo lattes
Orientador(a): Castro, Roney Polato de lattes
Banca de defesa: Ferrari, Anderson lattes, Bezerra-Perez, Carolina dos Santos lattes, Xavier Filha, Constantina lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Educação
Departamento: Faculdade de Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/9972
Resumo: O conceito cultura do estupro é atribuído às feministas americanas das décadas de 1960 e 1970, no contexto do movimento antiviolação nos Estados Unidos, para a análise da naturalização da violência sexual contra as mulheres, na (re)produção de mitos e estereótipos, que tendem a atribuir a culpa vítima (processo chamado de culpabilização) e a proteger os agressores. Compartilho do argumento de que o termo entra em evidência no Brasil, por meio de mobilizações do ciberativismo feminista, também conhecido como feminismo 2.0, após a repercussão de um caso de estupro coletivo envolvendo uma adolescente de 16 anos que foi estuprada por 33 homens na comunidade do Barão, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e trato a mobilização como uma reivindicação de não violência. Nesse sentido, o texto, dessa dissertação se desdobra, na repercussão do estupro coletivo, através de uma de uma imersão netnográfica, onde foi possível observar discussões em grupos feministas, além do acompanhamento de páginas na rede social Facebook. Das páginas trago os movimentos de apropriação e construção do conceito de cultura do estupro; dos grupos observados, foram selecionados seis, que reúnem mulheres filiadas a diferentes perspectivas feministas. Nesses grupos foi disponibilizado o formulário “O feminismo 2.0 e a circulação do conceito de cultura do estupro”. As análises se aproximam da perspectiva teórica pós-estruturalista, buscando explorar modos alternativos de pensar, falar e remodelar as metodologias de pesquisa para que elas não constituam ferramentas de reprodução social, mas que contribuam para problematizar e romper com discursos hegemônicos sustentam a hierarquização das diferenças. Aciono o conceito de interseccionalidade para pensar de forma articulada as diferentes experiências de mulheres, por vezes tornada invisível no ritual da heterossexualidade compulsória e no racismo que envolve a cultura do estupro. Resultam em considerações desta pesquisa as contribuições da produção de discursos dos movimentos feministas, que questionam as ‘normas’ que produzem a naturalização das violências sexuais contra as mulheres, indicando possibilidades e perspectivas de desconstrução da cultura do estupro. Ressalto a urgência de se considerar a análise da cultura do estupro a partir de um olhar intersecional, rompendo com a universalização da categoria gênero e atentando-se para as diferenças nas experiências de mulher. Nesse sentido, cabe também, a defesa pela ampliação e incentivo ao debate de gênero nas escolas, pauta intrínseca ao debate de enfrentamento a cultura do estupro, que vem passando por distorções e ataques institucionalizados, engajados no que é chamado de combate à “ideologia de gênero”.