Uso do hábitat pelo boto-cinza Sotalia guianensis (Van Benédén, 1864) (Cetacea: Delphinidae) na Baía de Benevente, ES, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Stutz Reis, Suzana lattes
Orientador(a): Andriolo, Artur lattes
Banca de defesa: Lodi, Liliane Ferreira lattes, Schiavon, Daniel Danilewicz lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas: Comportamento e Biologia Animal
Departamento: ICB – Instituto de Ciências Biológicas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/1056
Resumo: O uso do hábitat pelos organismos é diretamente influenciado pela disponibilidade dos recursos. Esta disponibilidade é afetada por parâmetros físicos que variam no espaço e no tempo. Assim, a área de vida, a organização social e o comportamento das espécies no ambiente são usualmente determinados pela distribuição em mosaico dos recursos. Diante disto, este estudo visou investigar os descritores bióticos e abióticos explicativos do uso do hábitat pelo boto-cinza (Sotalia guianensis) na Baía de Benevente (ES), e identificar possíveis áreas de ocupação preferencial (hábitats chave). De janeiro a dezembro de 2012 foram realizadas 34 expedições a bordo de duas embarcações - com 4 e 14 metros - e coletou-se diversas variáveis ambientais ao longo de transecções paralelas. A partir de expedições sistemáticas (n=17) e também de oportunísticas (n=17) foram registrados 33 encontros com grupos de botos. Das 142 horas e 3 minutos de esforço amostral, 7 horas e 8 minutos (5,02%) foram de observação direta dos animais. A cada avistagem registrava-se a localização geográfica do agrupamento, seu tamanho e composição, bem como o comportamento. As médias de número de indivíduos e de infantes por grupo foram de 5,24 (±3,25) e 1,03 (±1,29), respectivamente. A análise espacial das avistagens revelou que os encontros ocorreram em 30 (23,44%) das 128 células da malha quadriculada criada no ArcGIS 9.3.1. para representar a área amostrada, evidenciando que a ocupação do hábitat pelos golfinhos não é uniforme (χ2= 22,97; p<0,001). A área utilizada pelos grupos (estimada através de Mínimo Polígono Convexo) foi de 48,14 km2 e representa 39,40% da área estudada (122,18 km2), demonstrando a concentração significativa dos botos em determinadas regiões (χ2= 22,43; p<0,001). Através de modelos lineares generalizados, verificou-se que a distribuição espacial dos botos pode ser explicada pela latitude (regressão GLM, z = 2,57; p<0,02), pela profundidade (regressão GLM, z=2,18; p<0,03) e pela maré enchente (regressão GLM, z=2,39; p<0,02). Em relação às características do grupo, observou-se que o tamanho aumenta em função do oxigênio dissolvido na água (regressão GLM, z=2,08; p<0,04) e da presença de infantes (regressão GLM, z=4,27; p<0,001), enquanto tende a ser menor durante o comportamento de deslocamento (regressão GLM, z=-2,86; p<0,005). Das 6 horas e 26 minutos de atividades dos animais registradas, 46,37% foram despendidas em forrageio/alimentação, 34,20% em deslocamento, 10,62% em descanso e 8,81% em socialização. A latitude na área de estudo tem influência sobre a ocorrência de forrageio/alimentação (regressão GLM, z=2,74; p=0,006) e todos os registros deste comportamento (n=15) ocorreram na porção norte/nordeste da baía. Os grupos de S. guianensis utilizam a baía de forma heterogênea, e sua ocorrência é maior no norte da mesma. Variáveis como latitude, maré, oxigênio dissolvido, presença de infantes e comportamento exercem influência sobre o uso do hábitat pelo boto-cinza neste ambiente. O registro de infantes o ano todo, e a grande proporção de tempo empregado pelos grupos em forrageio/alimentação observada neste estudo indicam que a Baía de Benevente é utilizada por S.guianensis para reprodução e alimentação, demonstrando a relevância deste hábitat para a espécie.