Biografias de mulheres na história da educação: Benedicta Stahl Sodré, Branca Alves de Lima e Iracema Furtado Soares de Meireles (século XX)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Dias, Ana Raquel Costa
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Educação - FE (RMG)
Brasil
UFG
Programa de Pós-graduação em Educação (FE)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/13184
Resumo: Vidas e nomes de mulheres importam e histórias de professoras são temas fundantes para a problematização da História da Educação brasileira. Nesse aspecto, esta tese repele os mecanismos de produção e reprodução que, historicamente, tentaram silenciar ações e falas de mulheres, confrontando dispositivos patriarcais, sustentados por uma sociedade representada por escritas históricas não plurais. Para tanto, foram evidenciados os nomes, e as vidas, de Benedicta Stahl Sodré (1900-1972), Branca Alves de Lima (1910-2001) e Iracema Furtado Soares de Meireles (1907-1982), biografando-as historicamente, em meio à proeminência de registros sobre suas escritas pedagógicas: Cartilha Sodré (1939/1940), Caminho Suave (1948) e A Casinha Feliz (1970). Trata-se de mulheres brasileiras, brancas, de elite, professoras, normalistas, empresárias e autoras dessas cartilhas e de outros materiais didáticos. São mulheres com histórias que se aproximam e se afastam, mas igualmente revelando, emancipação, enfrentamento e resistência. A consciência feminista alicerçou esta tese, permitindo compreender a importância de pertencimentos, tomadas de decisão, relações e comprometimentos nas vidas biografadas. Escolher a biografia histórica como método, considerando seu estatuto científico próprio, fundamentou-se em uma escolha política, priorizando construir uma história diversificada e articuladora. Objetivou-se construir, confrontar e analisar a biografia delas, de forma a compreender os espaços que ocuparam e os tempos vivenciados. Benedicta, Branca e Iracema tornaram-se objeto desta tese ao constatarmos o silêncio sobre suas histórias de vida, considerando, sobretudo, como as cartilhas escritas por elas foram largamente divulgadas, anunciadas, propagadas, adotadas e vendidas com o apoio do complexo mundo das editoras, da imprensa, de ações governamentais, editais e outros meios. Igualmente, tais cartilhas foram objeto de pesquisas acadêmicas, além de serem consideradas, pela historiografia educacional, como as mais populares, vendidas e adotadas no século XX. Por conseguinte, compreendemos que, possivelmente, os estigmas de gênero são os principais responsáveis pelas tentativas de invisibilidade e, ao mesmo tempo, especulamos como outras questões podem ter endossado o apagamento, como as expectativas familiares, as escolhas editoriais, as relações de poder e outros fatores. Compreendemos, ademais, a importância das forças coercitivas vigentes, assim como as escolhas, imposições e decisões individuais. Os caminhos percorridos nos permitiram refletir sobre contextos, intencionalidades e demandas educacionais nas conjunturas políticas e sociais. Objetivamos explorar a relação singular das autoras com os universos em que se encontravam inseridas, observando os processos de origem e de ação delas como seres sociais que deram forma às suas experiências e fizeram significar as situações e ações que condicionaram a suas existências. Ao refletir sobre as três vidas, tomamos como foco a formação, relações familiares, militância, atuação no magistério, suas produções escolares e outros aspectos. O percurso metodológico constatou que nas últimas décadas se presencia um crescimento notável de trabalhos acadêmicos sobre vidas de mulheres, revelando dados de trajetórias preciosas para a compreensão dos lugares ocupados por mulheres que atuaram na educação e suas demandas. Para tanto, substancialmente fez-se uso da precaução do levantamento bibliográfico, literatura, cartas, convites, legislação educacional, relatos em redes sociais, registros de tombamentos, anúncios póstumos, entrevistas, materiais didáticos elaborados pelas biografadas, pesquisas acadêmicas e de fontes advindas da imprensa periódica nacional, considerando como recorte temporal o período entre o nascimento e morte de cada uma das três autoras. O trato com acervos e repositórios digitais foi vital ao oferecerem pistas diversas. Recorremos ao embasamento teórico concernente às discussões da história da educação brasileira, história biográfica, história de mulheres, priorizando autorias femininas de produções e concepções. Registramos na história seus nomes e vidas, sem deslegitimar o prestígio de suas produções, mas afirmando que Benedicta, Branca e Iracema são maiores que essas, são protagonistas da educação brasileira, assim como tantas outras mulheres que merecem ter suas histórias desembrulhadas. Com um lápis na mão, nos grupos escolares, nas escolas normais, nas organizações sociais e políticas, na família, romperam o patriarcado. Concluímos que os tempos obscuros sobre as vidas e os nomes de Benedicta, Branca, Iracema e outras infinitas educadoras e escritoras não voltam mais, pois mulheres escrevem sobre mulheres e as desvelam na história.