Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2017 |
Autor(a) principal: |
Burg, Ines Claudete |
Orientador(a): |
Ogliari, Juliana Bernardi |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Santa Catarina
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/2527
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Resumo: |
A agrobiodiversidade é fundamental para o desenvolvimento de sistemas agroecológicos e para segurança e soberania alimentar das populações. No Brasil, no entanto, existem poucas pesquisas focadas na diversidade de variedades crioulas de milho conservadas on farm, sendo a maioria relacionada com o germoplasma conservado ex situ e para uso em melhoramento genético. Estudos anteriores tem indicado a presença de uma elevada riqueza de variedades crioulas de milho conservadas on farm por agricultores familiares da região Oeste de Santa Catarina, Brasil. Com o objetivo de identificar, quantificar e caracterizar a diversidade, distribuição geográfica, a seleção e o manejo de variedades crioulas de milho, no município de Novo Horizonte, foi realizado um Censo da Diversidade de Zea mays L., entre os anos 2011 e 2012, com base em 398 entrevistas semiestruturadas realizadas com agricultores de 21 comunidades. Entre os anos 2013 e 2014, foi realizado um segundo diagnóstico com 66 famílias mantenedoras de variedades crioulas de milho. A pesquisa identificou 331 variedades, sendo 241 de pipoca, 75 de comum, 11 de farináceos e 4 de doce e adocicado. Além disso, foram encontradas 14 populações de parentes silvestres coexistindo com os diferentes tipos de milho. As variedades foram caracterizadas com base no conhecimento tradicional dos agricultores e agrupadas em 42 grupos morfológicos. A maior diversidade de grupos foi de pipoca, que em sua maioria (58%) é conservada por mulheres. Os valores estimados do Índice de diversidade de Shannon para a pipoca: cor do grão (1,2), tamanho do grão (0,85), formato do grão (0,92) e grupo morfológico (1,84); para milho comum, farináceo e doce: cor do grão (0,98), tipo de endosperma (1,03) e grupo morfológico (0,78) indicaram elevada diversidade quanto às características fenotípicas estudadas. As características cor, tamanho e formato de grão foram a base da taxonomia local usada pelos agricultores para a caracterização das variedades. Foram identificados 15 critérios de seleção, com destaque para melhores espigas, melhores sementes, tamanho de espiga e de grão. Os mantenedores tem em sua maioria idade superior a 50 anos e origem pluriétnica, cujo conhecimento tradicional a está agindo na seleção, uso e na conservação dessa diversidade. O acesso ao conhecimento sobre a seleção se dá, principalmente, pela transmissão intergeracional. O sistema de intercâmbio de sementes é dinâmico e o acesso às sementes se dá com base nas relações de confiança entre parentes e vizinhos. A maioria das variedades (83,3 % para o milho comum, farináceo e doce e 72,8% para o pipoca) tem até 10 anos de cultivo, mas 50 variedades podem ser consideradas antigas e tem acima de 20 anos. O tempo de cultivo da pipoca é significativamente superior ao do milho comum. As variedades tem valores gastronômicos, adaptativos, agronômicos, econômicos, culturais, medicinais e para artesanato. Destaca-se a predominância do uso direto das variedades nos estabelecimentos agrícolas para alimentação humana e animal (93% para pipoca e 96,4% para o comum, farináceo e doce). O elevado número de populações de diferentes tipos de milho, os elevados índices de diversidade, a riqueza dos valores de uso e cultivo, a presença do teosinto, a coexistência próxima com possibilidade de fluxo gênico entre milhos e os aspectos socioculturais que agem intensivamente no uso, na geração e conservação da diversidade, credenciam o município como extensão do microcentro de diversidade do Zea mays L. da região Extremo Oeste de SC. No entanto, nos últimos anos, ocorreu a perda de 75 variedades causadas principalmente pela falta de multiplicação das sementes e devido à seca. As práticas de isolamento temporal e espacial dos cultivos para evitar o fluxo gênico bilateral entre os tipos de milhos são insuficientes em 76% dos estabelecimentos agrícolas. A proximidade geográfica, o tamanho reduzido dos estabelecimentos agrícolas, a presença de teosinto, do milho geneticamente modificado (GM) e a insuficiência no isolamento, estão permitindo fluxo gênico entre milhos e de forma bilateral entre milho e teosinto. Essa situação pode gerar novos genótipos, mas também a perda da identidade varietal e a erosão genética das variedades. Outras razões apontadas como responsáveis pela erosão genética são internas aos agroecossistemas (tamanho reduzido da área, envelhecimento dos guardiões, falta de mão-de-obra e manejo), mas agravadas pela presença de eventos climáticos, pressão de pólen das grandes lavouras com milho GM e pela falta de políticas protetivas para os agricultores e suas variedades crioulas. Essas variedades, no entanto, são fundamentais para a segurança alimentar das famílias, programas de melhoramento genético e desenvolvimento de sistemas agroecológicos de produção. As diferentes indicações de usos e a descrição das qualidades intrínsecas demonstraram a importância do conhecimento tradicional na conservação on farm do germoplasma do milho. A elevada diversidade das variedades está associada à dinâmica de seleção e manejo realizado pelos agricultores de origem pluriétnica e ao seu uso tradicional na alimentação, baseado em inúmeros valores socioculturais intrínsecos. O estudo colocou em relevância a importância do aprofundamento da pesquisa sobre as variedades crioulas de milho conservadas no município e a premência no estabelecimento de estratégias de conservação on farm e ex situ de forma integrada e sistemática. As informações geradas nesta pesquisa devem orientar o estabelecimento de estratégias integradas e sistemáticas de conservação on farm e ex situ em nível regional, que envolvam programas de melhoramento genético participativo, o estabelecimento de zonas livres de transgênicos e o estabelecimento de políticas públicas para estimular a conservação das variedades crioulas e a manutenção dos jovens na agricultura. |