Negros em terras de brancos? reflexões sobre o racismo e a colonialidade nas representações hegemônicas sobre o Espírito Santo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Bernardo Neto, Jaime
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/29005
Resumo: Uma das características mais marcantes dos espaços transformados pela colonização europeia a partir da modernidade é a exclusão dos povos colonizados (ou seja, dos habitantes originais dessa áreas) das representações sobre essas localidades/regiões ou então sua redução à condição de nãosujeito, já que o protagonismo, em tais representações, é uma exclusividade dos colonizadores europeus e seus descendentes, resultando em uma versão extremamente eurocêntrica da história desses espaços, a qual pode e deve ser entendida como uma manifestação singular de racismo, já que o critério de exclusão é claramente de natureza racial – apenas os “brancos” são sujeitos, apenas os “brancos” têm história. Tal característica tem fortes reflexos sobre as identidades e relações de poder entre os sujeitos que coexistem nesses espaços, consistindo em um elemento capital da territorialidade dos grupos sociais que o habitam, tendo em vista o papel fundamental que as representações de tempo-espaço têm nos processos de territorialização e/ou de ativação da territorialidade do grupo, nas situações que esta se faz necessária para assegurar sua hegemonia sobre esse espaço convertido em seu território. Tal característica está fortemente presente nas representações hegemônicas sobre o Espírito Santo contidas em sua historiografia e também na forma como a memória coletiva de seus diversos municípios e regiões é enquadrada por instituições do poder público e de sua sociedade civil, geralmente fundamentada na historiografia, evidenciando o latente eurocentrismo/racismo dessas representações, nas quais os indígenas e afro-brasileiros são ora invisibilizados ora tratados na condição de objeto, por meio de representações nas quais os “brancos” são protagonistas enquanto essas demais categorias étnico-raciais (negros e indígenas) são invisibilizadas ou representadas de forma desumanizada. A desconstrução dessas representações racistas, por sua vez, parece perpassar por duas vias distintas, porém complementares, que se influenciam reciprocamente: por meio de uma reflexão epistemológica e metodológica no sentido de descolonizar o prisma de análise das evidências históricas e geográficas, o qual tende a desvalorizar os saberes e a experiência dos grupos que se fundamentam na oralidade e, consequentemente, a legitimar as representações provenientes da historiografia em detrimento daquelas que apenas estão presentes na memória coletiva desses grupos subalternizados; e por meio da luta desses sujeitos historicamente subalternizados por maior equidade social, uma vez que a visibilidade que sua luta projeta sobre eles no presente também tende a contribuir para torná-los visíveis nas representações sobre o passado do recorte espacial onde se encontram ou encontravam territorializados. Partindo dessas premissas, faz-se um estudo de caso sobre o município de Ibiraçu e sobre a comunidade remanescente de quilombos de São Pedro, o qual demonstra em âmbito local e, por consequência, de forma mais concreta, empírica, esse caráter racista e eurocêntrico das representações hegemônicas sobre o Espírito Santo bem como a contribuição que a luta da comunidade de São Pedro pela titulação de seu território tende a dar à desconstrução de tais representações por trazer à tona, a partir da memória coletiva do grupo, uma série de evidências empíricas que contradizem as representações hegemônicas que permeiam sua historiografia e nas quais se fundamentam os esforços para o enquadramento da memória coletiva da sociedade local promovida pela poder público e/ou por alguns atores da sociedade civil do município.