“Ratanabá” e o sequestro da atenção: o papel do algoritmo na recomendação de desinformação no YouTube

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Leitão, Ana Carollina
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/32484
Resumo: O sistema de recomendação do YouTube, que personaliza sugestões de vídeos de acordo com gostos e preferências do usuário com o objetivo de produzir audiência, tem sido pesquisado quanto ao seu potencial de recomendar conteúdos extremistas e narrativas alternativas sobre o mundo. Em junho de 2022, a falsa história de “Ratanabá”, uma cidade que teria sido descoberta por pesquisadores na Amazônia, foi mais buscada no YouTube que as informações sobre o assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. O crime aconteceu na Terra Indígena Vale do Javari no estado do Amazonas e contou com repercussão nacional e internacional. Quase um ano depois desses acontecimentos, esta pesquisa investiga o que os usuários encontram no YouTube ao buscar por “Ratanabá” e “Bruno e Dom”. A partir disso, discute-se o papel do sistema de recomendação do YouTube no que diz respeito à curadoria algorítmica e ao seu potencial para recomendar – por meio de suas affordances – e recompensar – por meio da monetização – a desinformação. Para tanto, foram criados dois perfis de usuário especificamente para este trabalho, um simulando um espectador interessado em divulgação científica, e outro mais voltado à desinformação. Isso permitiu: (i) investigar se a recomendação de desinformação pelo YouTube varia conforme personalização; (ii) observar se a desinformação leva a mais vídeos desinformativos segundo cada perfil; (iii) mapear táticas de captura da atenção do usuário; (iv) e examinar evidências de publicidade e de recursos de monetização. Os dados foram analisados em duas etapas. A análise das recomendações foi realizada a partir da aplicação de um tripé analítico, cujos pilares epistêmico, tecnológico e econômico discutem a relação entre desinformação, curadoria algorítmica e economia da atenção. Posteriormente, a análise de redes permitiu mapear a rede de vídeos relacionados pelo sistema de recomendação do YouTube. Observou-se uma diferenciação entre os resultados de busca por perfil e por termo-chave. Contudo, os achados mostram que: (i) a personalização não impediu que a desinformação fosse recomendada ao perfil interessado em divulgação científica; (ii) a história de “Ratanabá” levou a outros modos epistêmicos; e (iii) os vídeos com títulos desinformativos apresentam mais evidências de monetização dos criadores de conteúdo via recursos do YouTube Partners Program. Isso significa que a recomendação de desinformação pelo YouTube varia conforme cada perfil, com a personalização sendo um aspecto importante, mas não determinante. Quanto à formação de bolhas desinformativas, os rastros digitais não oferecem conclusões totalizantes, mas apontam relações que favorecem a desinformação. Em relação à publicidade e táticas de monetização, foi observado que os vídeos sobre “Ratanabá” estão mais inseridos na economia da atenção do YouTube, seja por características relativas aos metadados (título e descrição do vídeo) ou ao uso dos recursos de monetização da plataforma.