Resumo: |
Esta pesquisa analisa a obra do quadrinista Marcello Quintanilha, através de narrativas avulsas e álbuns autorais publicados no Brasil (1999-2021), que expressam características do quadrinho moderno, como a autobiografia, a memória, o cotidiano e a crítica social, e busca situar a proposta do artista dentro da linguagem e do meio editorial. Seu universo, com histórias transcorridas em regiões periféricas e personagens de classes subalternas, motiva debates sobre o protagonismo de personagens oprimidos bem como a escolha por sublinhar suas contradições; a visibilidade de negros e negras e do racismo, em tramas que revelam a presença da ideologia racista no cotidiano. Aspectos autobiográficos e históricos estão inter- relacionados na obra de Quintanilha, em memórias pessoais e de segunda geração, em especial as de seu pai, operário-jogador em um clube de futebol de fábrica, lembranças que assumem relação privilegiada com um lugar – o bairro do Barreto, na cidade de Niterói (RJ), onde o autor viveu na infância e na adolescência, e cuja atmosfera busca reter. A pesquisa aponta a presença da nostalgia como chave criativa da obra. O elo entre o histórico e o ficcional, juntamente com a “escavação de ruínas”, como em Benjamin (1987), estabelecem o sentimento nostálgico como caminho para a busca de sua identidade e da constituição de uma proposta estética única, marcada por sentidos indicados tanto da nostalgia reflexiva, conforme Svetlana Boym (2017), como na imaginação mnemônica, de Keightley e Pickering (2012). Neste sentido, a pesquisa parte da percepção que, diante de um tempo em crise, como aponta Arendt (2016), Quintanilha, em sua proposta, constitui uma forma criativa e inovadora de lidar e apreciar o tempo, destacando poética e visualmente sua passagem e também a tensão entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativa (Koselleck, 2006), no cotidiano de pessoas comuns e suas escolhas. |
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