Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2025 |
Autor(a) principal: |
Vilarinho, Yuri Coutinho |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://app.uff.br/riuff/handle/1/37535
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Resumo: |
Entendido cada vez mais como uma condição atemporal e assumido como uma espécie de categoria popular, o conceito de trauma, nas duas últimas décadas, passou a servir como conceito explicativo para entendimento de questões não só clínicas, mas também sociais. O objetivo deste trabalho foi entender como determinadas discussões relacionadas ao trauma e a alguns de seus construtos relacionados, publicadas no contexto norte-americano e europeu, se aplicariam à realidade brasileira. Na primeira parte desta tese, exploramos alguns dos debates em torno do conceito de trauma no cenário internacional, especialmente nos contextos de língua inglesa, a fim de proporcionar uma ampla visão sobre esse campo diversificado e controverso. Partindo de exemplos empíricos, analisamos as rupturas de sentido que o conceito sofreu, particularmente após os chamados ataques às Torres Gêmeas de Nova York. Embora já estivesse presente na terminologia médica, a partir de então, este conceito torna-se disseminado. Na segunda parte da tese, nos voltamos para o modo como tais discussões se materializam no cenário brasileiro contemporâneo. Exploramos, primeiramente, como o cenário nacional de publicações se apropria do tema, destacando cinco campos teóricos distintos onde o conceito assume lugar de destaque. Tomando-se em conjunto os cinco campos, foi possível observar que o conceito de trauma tanto mais era estabilizado quanto mais existissem dois fatores. Em primeiro lugar, registros de narrativas em primeira pessoa e consequente visibilização dos mesmos. Em segundo lugar, um conjunto de políticas públicas e de um corpo jurídico normativo, na maior parte das vezes de caráter supragovernamental, que dava respaldo, legitimava e tornava possível o próprio corpo de testemunhos produzidos pelas vítimas. Obtido o panorama das discussões contemporâneas sobre o trauma no cenário acadêmico brasileiro, investigamos, na parte final desta tese, de que modo tais saberes se manifestavam na prática da assistência pública em saúde mental. Nesta parte, discutimos os resultados relativos à incursão etnográfica realizada num dispositivo público de saúde mental localizado no Estado do Rio de Janeiro, onde acompanhamos, por um período de pouco mais de dois anos, a prática diária de trabalho de profissionais de saúde mental. Buscou-se entender, aqui, de que maneira a discussão sobre o trauma ocorre nas diferentes práticas cotidianas de cuidado e de que modo a retórica teórica sobre tal conceito se traduz em prática. A partir dos diferentes quadros e cenários estudados, os achados gerais de nosso trabalho apontam para as dificuldades de conceituação do trauma e as discordâncias quanto às suas diferentes dimensões, em especial as entendidas como individuais e intrapsíquicas, de um lado, e sociopolíticas, de outro. Apontamos para a necessidade de uma abordagem interdisciplinar que enfrente esse conceito em contato estreito com cenários sempre situados e considere de maneira conjunta suas dimensões político-sociais, históricas e psicológicas. Ademais, tais análises devem ser constantemente reconstruídas e analisadas, a depender das situações em questão. Atentamos também para as limitações dos estudos, no Brasil, dos efeitos da violência, e entre eles, do trauma. Não só para a carência de dados confiáveis sobre a prevalência de tais condições na população atendida, com as consequências na elaboração de políticas públicas e práticas de cuidado em saúde mental, mas também para a carência de estudos teóricos, em suas diversas acepções metodológicas, que levem em consideração as particularidades nacionais. Destacamos a necessidade de promoção de um diálogo mais aberto e colaborativo entre os diferentes campos de estudos e de práticas em prol de uma compreensão mais ampla, interdisciplinar e inclusiva dessas questões no Brasil. Por fim, enfatizamos a importância de ouvir e legitimar as narrativas das vítimas como fonte de conhecimento valioso para a prática clínica e políticas públicas. |