Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2014 |
Autor(a) principal: |
Buscácio, Lívia Letícia Belmiro |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://app.uff.br/riuff/handle/1/10083
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Resumo: |
A tese de doutorado “Mário de Andrade: um arquivo de saberes sobre a língua do/no Brasil” inscreve-se no campo teórico da História das Ideias Linguísticas (AUROUX, ORLANDI) em seu encontro com a Análise de Discurso (PÊCHEUX, ORLANDI). O objetivo é analisar as discursividades sobre a língua no Brasil no funcionamento da autoria (FOUCAULT, 2012 [1992], ORLANDI, 2007 [1996], 2009) e do arquivo discursivo (PÊCHEUX, 2011 [1994]; MARIANI, 2010; ROMÃO, 2011) em Mário de Andrade, através de uma leitura das correspondências. Postulamos que o funcionamento da autoria (FOUCAULT, 2012 [1992], ORLANDI, 2007 [1996], 2009 [1999]), em seu efeito de unidade e contensão do discurso em um nome próprio (PÊCHEUX, 2009 [1988]; HAROCHE, 1992[1984]), incide na organização de um arquivo discursivo. Em Mário de Andrade, autor e arquivo, estão abrigados diferentes lugares discursivos (GRIGOLETTO, 2005, 2008) onde transitam posições-sujeito (PÊCHEUX, 2009 [1988]) na luta por um discurso sobre a língua do/no Brasil ao dizer sobre a escrita literária, emergindo uma veiculação de ideias e saberes linguísticos (AUROUX, 1992). É preciso considerar as condições de produção de Mário de Andrade e seus missivistas. Como afirma Orlandi (ORLANDI, 2002), a formação do lugar intelectual de brasileiro alinha-se às condições de produção do estado e da língua nacional no Brasil, estando subsumida a uma formação discursiva positivista. Ademais, a circulação das ideias para a língua do/no Brasil se dá na filiação a campos de saber sobre a língua, cunhados por uma herança positivista nos estudos comparativos (CHISS, PUECH, 1999) em conflito com uma memória gramatical lusitana (MARIANI, 2004), no discurso do filólogo brasileiro (MEDEIROS, MATTOS, 2012, 2013). Considerando tais questões, o arquivo discursivo consiste nas correspondências entre Mário de Andrade e autores que ocupam o lugar social de quem pode e deve dizer sobre a língua, o lugar do filólogo, do gramático, do literato, do professor, dentre outros. O recorte do arquivo discursivo (ORLANDI, 1984) foi estabelecido a partir de cartas em que comparece a batalha por um discurso sobre (ORLANDI, 1990,2001) a língua ao dizer sobre a escrita literária, promovida no nome de autor a partir de lugares discursivos onde se inscrevem posições em tensão sobre a língua do/no Brasil, o que está materializado nas correspondências. Na movência dos dizeres sobre a língua no Brasil, muitos são os lugares ocupados por Mário de Andrade: estudante, literato, professor de música, de cultura brasileira, filólogo, etnógrafo, chefe do Departamento de cultura, tradutor, “turista aprendiz”, escritor e leitor de cartas: intelectual, homem de letras. Também são diversos os lugares ocupados por seus correspondentes, sendo trazidos pelo recorte do arquivo Sousa da Silveira, Manuel Bandeira, Pio Lourenço Corrêa. O trajeto temático (GUILHAUMOU & MAZIÈRE, 2011 [1994])para a leitura do arquivo consiste na emergência de saberes metalinguísticos na correspondência, movendo o funcionamento do discurso transverso (PÊCHEUX, 2009 [1988]), pela materialização de nomes de autor que ocupam um lugar de autoridade sobre a língua, como João Ribeiro, Amadeu Amaral, Cândido Figueiredo, dentre outros. Deste modo, constatamos que a correspondência, compreendida discursivamente (FOUCAULT, 2012 [1992]; SOUZA, 1998; LEAL, 2012), é uma materialidade na qual através do dar-se a ler a um outro pela escrita de cartas o autor se esvanece e fortalece, no movimento das posições discursivas frente ao efeito de unidade da autoria. Estabelecemos algumas propostas. A primeira consiste em compreender o lugar discursivo como uma categoria constituída na transição do lugar social para a materialidade da língua no arquivo discursivo. No caso da relação com um nome de autor, o lugar discursivo reforça o efeito de legitimidade sobre o dizer produzido pela função-autor. Contudo, pela própria movência do discurso, o efeito de unidade e de legitimidade produzidos pelo lugar de onde um autor fala é esvanecido pela inscrição das posições discursivas em tensão na teia de dizeres sobre a língua que dão corpo à correspondência de Mário de Andrade. Procuramos formular também uma compreensão da correspondência enquanto materialidade discursiva, pela qual é possível averiguar em uma prática de “escrita de si” (FOUCAULT, 2012 [1992]) a dissipação do efeito de unidade discursiva do sujeito no deslizamento do que chamamos a língua da correspondência. Ademais, conforme Colombat, Fournier e Puech (2010), a escrita pode ser considerada como um saber metalinguístico, por veicular representações sobre a língua ao reportar-se à linguagem. Propomos com a análise do arquivo que o dizer sobre a escrita literária, ao mobilizar discursividades sobre a língua, configura uma forma de saber metalinguístico. Portanto, através da análise do arquivo, sugerimos mostrar que no dizer sobre a escrita literária estão inscritas discursividades sobre a língua. Pelo funcionamento do discurso sobre a língua do/no Brasil vinculado à função-autor, emerge uma veiculação de saberes metalinguísticos, a partir de posições discursivas em tensão, transitando entre formações discursivas lusitana, brasileira e positivista, constitutivas da memória da língua brasileira. Verificamos, com isso, que Mário de Andrade, autor e arquivo, pode ser entendido como um acontecimento discursivo (PÊCHEUX, 2008 [1988]) na hiperlíngua brasileira (AUROUX, ORLANDI, 1998), instaurando e reatualizando a memória da língua (PAYER, 2006) no Brasil. Do lugar de professora de língua portuguesa e literatura do CAP-INES, a partir da tese, ao considerar o discurso sobre a escrita literária e a escrita como um saber metalinguístico, pretende-se também colaborar para uma perspectiva que tem como base fundamental para o ensino de língua e de literatura a historicidade e a memória da língua, com o desenvolvimento de um projeto intitulado “Mário de Andrade, um arquivo de saberes sobre a língua no Brasil” |