Sobre livros e espelhos: figurações da leitura em Amadeo, de Mário Cláudio, e A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Kano, Ivan Takashi
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/3681
Resumo: Este trabalho se propõe a analisar dois romances contemporâneos – Amadeo (1984), do escritor português Mário Cláudio, e A rainha dos cárceres da Grécia (1976), do brasileiro Osman Lins – a partir do modo como cada um demarca o lugar do leitor como personagem e a leitura como gesto a ser encenado no palco da ficção. Para tanto, busco examinar a aproximação, em ambas as obras literárias aqui abordadas, entre duas formações discursivas distintas e aparentemente opostas: de um lado, o discurso metaficcional que, tratando de acentuar o caráter artificial do objeto literário, acaba por explicitar a artificialidade do que nos convém compreender como real; de outro, o discurso biográfico, figurado no gênero diário, cujo vigor expressivo está tradicionalmente relacionado ao ilusório vínculo substancial entre aquilo que se narra e a experiência do sujeito empírico que se oferece como garantia de veracidade ao relato. Articulado ao diário, o trabalho crítico dos autores aqui estudados aponta menos para o lugar do escritor do que para o papel ativo do leitor na permanência do texto literário – o que implica analisar a relação entre leitura e experiência biográfica ou, em outras palavras, o modo decisivo como os atos de leitura encenados em cada diário sugerem a figura do leitor como sujeito, aqui entendido não em termos de essência, mas, segundo a imagem elaborada por Roland Barthes, como um compósito de linguagens que tendem mais à dispersão do que à unidade. Nesse contexto, a imagem do leitor como sujeito se desenvolve, tanto em Mário Cláudio quanto em Osman Lins, a partir de diálogo intertextual explícito com a obra do escritor francês Marcel Proust e seus locais de força: para além da natureza contraditória do amor e do caráter lacunar da memória, o autor de Em busca do tempo perdido surge nos romances para reforçar o tópico da dificuldade de escrever e, sobretudo, da possibilidade de transfigurar a experiência humana através do exercício da arte. Em vista disso, no último movimento deste trabalho, tomando como ponto de partida a reflexão de Michel Foucault sobre o tema, tento compreender, dentro dos quadros ficcionais, de que modo a leitura aponta caminhos para pensar a vida como obra de arte