Estudo de tradução de legendas inclusivas em Pose (2018): especificidades contextuais e questões de gênero.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: TAVARES, Jeremias Lucas.
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
Brasil
Centro de Humanidades - CH
PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO
UFCG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/24849
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar as legendas da série televisiva Pose (2018), de inglês para português brasileiro, no que se refere às legendas inclusivas, que incorporam a linguagem inclusiva como alternativa ao binarismo de gênero nas flexões gramaticais, frente às suas especificidades contextuais e questões de gênero. Assim, objetivamos, especificamente: i. Identificar as legendas inclusivas e suas características linguístico gramaticais à luz da Tradução Audiovisual; ii. Categorizar os aspectos situacionais da narrativa da série nos quais as legendas são aplicadas; iii. Observar a relação legenda-imagem como fator para a construção de sentidos a partir das legendas inclusivas e dos aspectos situacionais da série. O arcabouço teórico da pesquisa é formado por três eixos: 1) Estudos da Tradução, com base em estudos de Bassnett (1998), Rosa (2001), Cintas e Remael (2007), Cintas e Anderman (2009), Skuggevik (2009) e Meo (2010); 2) Gênero e sexualidade, considerando as discussões de Butler (1990; 1993), Ehrlich (2004), Chamberlain (2004 [1988]), Franco e Cervera (2006) e Snell-Hornby (2006); e 3) Linguagem inclusiva a partir de Moita Lopes (2013) e Mäder (2015). A pesquisa envolveu geração de dados a partir da série Pose, resultando em um corpus multimodal formado por vídeos, imagens com o uso de legendas inclusivas em português brasileiro – texto alvo –, e legendas intralinguais em língua inglesa – texto fonte. Os textos fonte e alvo estão organizados, também, de forma paralela. Para a compilação dos dados da pesquisa, utilizamos o programa Bandicam, que permite captura de imagens e vídeos. A compilação foi realizada a partir dos oito episódios da primeira temporada da série, disponíveis nos aplicativos de streaming FX Premium e NOW, e foi dividida em cinco etapas: 1) apreciação da produção audiovisual; 2) observação das cenas à procura de ocorrências da linguagem inclusiva; 3) captura dos vídeos das cenas que apresentam as legendas inclusivas; 4) captura da imagem estática com as legendas inclusivas no enquadramento; 5) registro escrito dos textos fonte. No total, foram compilados 131 vídeos e 195 imagens da série, sendo a presença da linguagem inclusiva critério para seleção. Foram identificadas 58 expressões que neutralizam o gênero gramatical, representando uma alternativa ao binarismo masculino-feminino. A partir dos três objetivos específicos da pesquisa e do que foi evidenciado pelo corpus, estabelecemos as categorias de análise: 1) Características linguístico-gramaticais; 2) Aspectos situacionais da narrativa; e 3) Relação legenda e imagem. Na análise da primeira categoria, observou-se que 86% das expressões encontradas são neutralizadas exclusivamente através do uso da vogal ‘e’ como desinência de gênero. Os outros 14% passaram por outras adaptações, além do uso do ‘e’ para flexão de gênero. Nessas ocorrências, outras letras também foram adicionadas às palavras a serem neutralizadas, como ‘l’, que aparenta ser uma influência do espanhol, e ‘q’, que foi empregado para manutenção da sonoridade das palavras. Além disso, duas ocorrências, minhe e super-heroínes, foram neutralizadas a partir da forma feminina, provavelmente, também, para adequações fonéticas. A linguagem inclusiva foi utilizada em três situações narrativas da série: 1) em referência a grupos heterogêneos em termos de gênero (77%); 2) em generalizações (14%); e 3) em referência a profissões (9%). Alguns dos dados compilados demonstraram uma falta de concordância entre imagem e legenda no que refere ao uso da linguagem inclusiva. Conclui-se que a linguagem inclusiva surge como uma maneira de repensar a língua a partir de questões de gênero. As legendas inclusivas, portanto, representam uma afirmação identitária e política de desconstrução e problematização de gênero na língua portuguesa brasileira. Além disso, as legendas da série em estudo representam uma escolha do profissional de legendagem, relacionada ao contexto de produção e distribuição de Pose. As legendas inclusivas adicionam significado à série, uma vez que todos os canais semióticos de um produto audiovisual são assimilados simultaneamente. Dessa forma, a linguagem inclusiva nas legendas proporciona um contexto ainda mais político e social, que problematiza a série, a língua portuguesa brasileira e as relações de gênero na sociedade.