Vai um café? análise do personagem Lula no programa Café com o Presidente.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: SANTOS, Leandro José.
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
Brasil
Centro de Humanidades - CH
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
UFCG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/1370
Resumo: Apresentamos uma análise do personagem Lula no programa radiofônico Café com o presidente e a sua relação com o tipo de liderança que povoou o imaginário social brasileiro no primeiro mandato do governo petista. Para o atingimento dos objetivos, utilizam-se as noções de imagem pública e de mitologia política. Do ponto de vista metodológico, a arena política foi tomada como espaço dramatizado, propício a atuações cênicas. Acreditou-se que como acontece nas narrativas míticas e nas encenações teatrais, os participantes do jogo político se comportam em público como estivessem interpretando papéis. Na metodologia também são utilizados os conceitos da Nova Retórica, através dos quais foram analisados os acordos e estratégias discursivas que permitiram apreender o caráter da personalidade pública de Lula no programa radiofônico Café com o presidente. Aqui, o discurso se configurou como lugar onde as formas simbólicas e as disputas por elas realizadas tomam corpo e se concretizam. A partir de uma abordagem microscópica, o estudo pautou-se apenas nas edições produzidas no primeiro mandato dos governos Lula. O argumento básico da Tese é que apesar de sua materialidade como sujeito empírico, como um ser de carne e osso que existe no mundo real, no Café com o presidente Lula se comportou arquetipicamente como um homem comum, uma figura dramática concernente ao campo do imaginário social e das mitologias políticas. Partindo do contexto daquele programa de rádio, afirma-se que a liderança que ali se apresentou não foi o “Lula real”, mas uma imagem, um fenômeno simbólico produzido no imaginário e que se manifestou através da enunciação de uma forte argumentação política, objetivando a manutenção, o controle e o exercício eficaz do poder político. Apesar da estrutura e aparência, defende-se que Café com o presidente não foi um “autêntico” programa de radiojornalismo, mas o lugar estratégica e racionalmente escolhido para que Lula pudesse fortalecer e legitimar a imagem de homem simples e de líder preocupado com as demandas de “seu povo”. Argumenta-se que Lula é um comunicador inigualável, que vê o mundo a partir de sua experiência sensível, e de uma história de vida que subjetivamente o aproxima do eleitorado brasileiro, que o autoriza a se comunicar com os segmentos mais pobres utilizando a linguagem do homem comum. Percebe-se que naquele programa de rádio, o enunciatário do discurso presidencial não era uma instância abstrata e universal, mas uma imagem concreta a quem se destinava uma narrativa específica. No Café com o presidente, o discurso político lulista, apesar de emotivo, era minuciosamente calculado e consciente, ou seja, racionalizado. No rádio, o enunciador do discurso presidencial não encontrou dificuldades para mobilizar o imaginário dos segmentos pobres da população brasileira. Isso aconteceu não somente pelo fato de “o Lula real” ter vivenciado a pobreza, nem de ter atuado como sindicalista ou de ter conhecido de perto as mazelas brasileiras, mas por o personagem Lula ser um exímio conhecedor daquilo que move e comove os seus interlocutores, o que o autorizou a assumir o papel temático de homem comum e se colocar como o legítimo representante dos setores mais pobres da sociedade brasileira. Nesta Tese, compreende-se que em seu programa de rádio, Lula não apenas se pôs no lugar do pobre, ele se igualou ao seu interlocutor e velou os seus dramas. Ao procedermos a uma análise argumentativa dos discursos ali pronunciados, percebe-se que ao relatar as suas experiências, o ex-presidente estabeleceu uma identidade discursiva com os batalhadores e com a ralé que, tomados como protagonistas da ação governamental aderiram à máscara ritual que se lhes apresentava. No Café com o presidente, a identidade e reciprocidade entre Lula e seu público ocorreu através do reconhecimento e compartilhamento de subjetividades relativas às formas de ser, pensar e agir dos batalhadores e da ralé. Identidade e reciprocidade advindas da carência material e cultural e que passam pelo reconhecimento do drama e dor da fome, se estabelecem pelo sofrimento e estigma do trabalho diário e pesado e, no caso da ralé, também passam pela ausência de condições que permita aos indivíduos se apropriarem de elementos que possam dar às suas vidas algum sentido.