Estratégias discursivas na fabricação do consenso político: a propaganda sobre a reforma trabalhista do governo Michel Temer.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: BEZERRA, Haiany Larisa Leôncio.
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
Brasil
Centro de Humanidades - CH
PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO
UFCG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/20503
Resumo: Nesta dissertação investigamos a fabricação discursiva do consenso sobre a necessidade de implementação da Reforma Trabalhista aprovada durante o governo de Michel Temer (2016-2019), por meio da análise da propaganda governamental produzida sobre esta reforma naquele conturbado momento político-histórico. A preocupação central desta investigação reside na observação do jogo de posições-sujeito mobilizado, assumido e relacionado no intradiscurso da propaganda oficial, jogo esse que objetivava produzir uma ideia de consenso em torno da reforma, a fim de obter a adesão da opinião pública e dos trabalhadores. Partindo dessa hipótese, buscaremos compreender, no jogo discursivo entre as posições-sujeito governo, patrão e trabalhador, textualizadas na propaganda da Reforma Trabalhista do governo Temer, as estratégias discursivas da fabricação do consenso sobre a urgência e a necessidade da implementação desta reforma. Esta pesquisa se alicerça teoricamente no quadro da Análise do Discurso de orientação pecheutiana e de seus desdobramentos no território brasileiro, especialmente em formulações teóricas sobre as estratégias do discurso (PÊCHEUX, [1969] 2014; ORLANDI, 1998; 1983). Nosso movimento de análise será concretizado a partir de um batimento entre descrição e interpretação de recortes de sequências discursivas relativas às 11 vídeo-propagandas oficiais sobre a Reforma Trabalhista que representem o processo discursivo em estudo. Os resultados da análise demonstram que, nas propagandas, o sujeito-enunciador, falando do lugar social do governo, produz um desdobramento discursivo de sua posição, assumindo os lugares do sujeito patrão e do sujeito trabalhador, representando e simulando suas posições de modo a produzir um efeito de consenso sobre os benefícios comuns da reforma trabalhista. Em relação à posição-sujeito governo, esta se caracteriza pelo acionamento de um lugar de porta-voz e de líder de toda a sociedade. Já em relação à posição-empregador, constatamos que esta é acionada como porta-voz do governo, legitimando a posição deste e, ao mesmo tempo, sendo legitimada por ele. A posição do sujeito trabalhador, por sua vez, é mobilizada para endossar as duas outras posições em jogo. Neste caso, embora sendo colocada, no fio do discurso, aparentando representar o lugar de porta-voz dos trabalhadores, a posição-sujeito trabalhador enuncia e legitima os lugares político-ideológicos ora do próprio governo ora do empregador. Desse modo, podemos afirmar que a mobilização das posições-sujeito governo, patrão e trabalhador, divergentes e antagônicas do ponto de vista de seus lugares sociais e ideológicos na estrutura social, se apresentam, no discurso da propaganda, como convergentes e não conflituais. Portanto, pela estratégia discursiva de antecipação e alternância contraditória de lugares sociais e posições-sujeito, é possível compreender, nos discursos, a produção de efeitos de consenso que atenuam ou apagam a existência dos conflitos e das lutas sociais, a fim de impor os interesses dominantes da classe política e empresarial sobre o conjunto dos trabalhadores.