Entre a cruz e a espada: relações discursivas paradoxais entre o papa Francisco e o movimento feminista.
Ano de defesa: | 2019 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Campina Grande
Brasil Centro de Humanidades - CH PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO UFCG |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/11816 |
Resumo: | Tendo como base a Análise de Discurso pecheutiana, esta pesquisa busca compreender as relações discursivas constituídas a partir de discursos produzidos pelo Papa Francisco e pelo Movimento Feminista ao tratarem de temas comuns. Tomamos como corpus os discursos do Papa Francisco e de grupos feministas quando esses falam sobre pautas de interesse comum, sendo estas o aborto e direitos reprodutivos, prostituição e relações gerais sobre a violência e submissão da mulher. Para cumprir o objetivo através deste corpus, primeiramente desenvolvemos um percurso teórico que teve como base a relação entre Igreja Católica e sujeito Mulher, discutindo sobre a constituição do feminino desde as influências da tradição judaica, passando pela construção da mulher no Cristianismo primitivo, pelo período da inquisição católica, pelas primeiras manifestações de mulheres no discurso revolucionário francês e pelas ondas do Movimento Feminista em relação à Igreja contemporânea, a partir dos concílios. Aqui, ainda trazemos uma discussão sobre a relação entre o Papa Francisco e o Movimento Feminista, tendo como pano de fundo o panorama heterogêneo da década de 2010. Logo após, construímos uma revisão de pressupostos teóricos da Análise de Discurso que são relevantes para a compreensão de nosso objeto de estudo, principalmente em relação às possibilidades de conflito a partir das tomadas de posição-sujeito formuladas por Pêcheux (1982 [2014], 2014), identificação, contraidentificação e desidentificação, e pelos efeitos de sentido desenvolvidos por Cazarin (2004) a partir das tomadas de posição: aliança, diferença, divergência e antagonismo. Aqui, também consideramos importante a discussão de Pêcheux (1991 [2015]) sobre as lutas ideológicas de movimento e os objetos de paradoxo lógico, principalmente ao tratar sobre os temas em comum entre Papa e Movimento Feminista. Em nossa metodologia, desenhamos um espaço discursivo a partir de Maingueneau (1997) formado pelas formações discursivas que são ocupadas pelos sujeitos em evidência, sendo elas a Formação Discursiva Católica, na qual o sujeito Papa Francisco se inscreve sob a posição-sujeito papa, e a Formação Discursiva do Movimento Feminista, na qual os feminismos liberal, radical, marxista e católico ocupam posições. Por fim, nossa análise é apresentada a partir de três movimentos analíticos. O primeiro diz respeito à relação interna entre o sujeito Papa Francisco e a sua posição-sujeito e formação discursiva. Neste movimento, identificamos que foram provocados tensionamentos principalmente em relação à integralização de saberes feministas pelo sujeito papa, especialmente no que diz respeito à ordenação de mulheres na Igreja e sobre a menção a já-ditos feministas. Por sua vez, o segundo movimento teve como foco a relação entre o sujeito Papa e a sua exterioridade, ou seja, a sua relação com o Movimento Feminista. Aqui, identificamos uma relação paradoxal presente no discurso do papa; ora o discurso deste sujeito apresenta sentidos e gestos de aliança, ora de divergência, ora de antagonismo. Também foi possível verificar a presença de uma regularidade no funcionamento discursivo de Francisco, que nomeamos de contrarresistência. Por último, analisamos o discurso dos feminismos em relação ao dito por Francisco, em efeito de resposta. Neste movimento, observamos também uma presença de uma relação paradoxal, marcada por gestos múltiplos, mas principalmente voltadas aos efeitos de divergência e antagonismo. Em suma, o paradoxo dessa relação decorre dos modos múltiplos e não coincidentes de produção de sentidos nos discursos de ambos os sujeitos, o religioso católico e o feminista: nos processos de significação em que se relacionam, há identificações, contraidentificações e desidentificações. |