Resumo: |
Nas últimas décadas o Brasil se consolidou como um dos países mais agroexportadores do mundo. Os elogios ao agronegócio brasileiro estampam manchetes de jornais, tematizam discursos políticos, dentro e fora do congresso nacional. Hegemonicamente, o “agro” é um dos setores mais importantes da economia. Graças ao seu desenvolvimento, há geração de empregos e larga produção. Diante de tantos números, de recordes anuais de crescimento, das propagandas que, diariamente, passam em horário nobre da televisão aberta, é difícil construir uma contra narrativa sobre o agronegócio. Mas de que maneira é possível pensar suas contradições? O que está para além do agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo? No Ceará, a chegada do agronegócio remonta ao final da década de 1990. Desde o início desse processo, ficaram nítidos os impactos sociais e ambientais, principalmente, para aqueles e aquelas que foram diretamente afetados pela implantação de grandes empreendimentos agroexportadores, como pequenos agricultores e as populações de comunidades próximas as instalações agroindustriais. Nesse sentido, este trabalho quis pensar, a partir da história oral e dos estereótipos em torno da viuvez feminina, a construção narrativa de mulheres do campo nas suas diversas subjetividades – a filha, a mãe, a viúva, a trabalhadora - e visões de mundo. O esforço aqui não foi de enquadrá-las, nem de falar a partir de uma categoria ou grupo social que evocassem qualidades essencialistas. Pensar as mulheres desta pesquisa é uma tentativa de produzir sentidos, problematizando suas construções narrativas sobre o mundo e suas próprias vidas, ou seja, como fazem pensar o trabalho ou qualquer tipo de impacto imposto pelo agronegócio, e acima de tudo, como suas narrativas são interessantes na invenção de sentidos e significados sobre a vida, naquilo que ajuda a complexificar ou, simplesmente, refletir, a partir de visões estéticas, éticas e políticas. O trabalho se desenvolveu, sobretudo, a partir das fontes orais, mas também se utilizou de relatórios, de pareceres técnicos, de reportagens, de outros materiais. Dessa forma, as reflexões acerca dos percursos e possibilidades do trabalho com história oral aparecem como elemento central. Pretendeu-se explorar questões referentes ao trato com memórias sensíveis que aprofundem as questões de gênero, classe e raça, destacando sempre as subjetividades e estabelecendo, à medida do possível, relações com as áreas da Literatura e da Psicanálise. |
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