“Avaliação acima de tudo e de todos”: um estudo de caso sobre as repercussões das avaliações em larga escala para o poder de agir de professores

• Ano de defesa: 2023
• Autor(a) principal: Sousa, Francisca Valéria de
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Palavras-chave em Português: valiações externas; Trabalho Docente; Poder de Agir; Clínica da Atividade.; Avaliações externas; Trabalho Docente; Poder de Agir; Clínica da Atividade
• Link de acesso: http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/74452

A pressão por resultados em avaliações externas tem afetado o trabalho docente. Exige-se dos professores que os alunos tenham desempenho satisfatório em testes padronizados em detrimento da aprendizagem, ao mesmo tempo em que há uma burocratização da atividade desses profissionais, que passa a ser desenvolvida em um ambiente perpassado por diversas tensões. Esta pesquisa teve como objetivo investigar as repercussões das avaliações externas para a saúde de professores de Ciências Humanas lotados em séries finais do Ensino Fundamental. Neste estudo, o termo saúde foi definido, a partir da Clínica da Atividade, não como mera ausência de doenças, mas como a ampliação da capacidade de agir, para além da mera adaptação a uma normatividade. Para a construção dos dados, foi utilizado o método Carta ao Remetente. Trata-se de um método em Clínica da Atividade desenvolvido pela equipe do Laboratório de Práticas e Pesquisas em Psicologia e Educação da Universidade Federal do Ceará. A Carta ao Remetente tem como objetivo elaborar, junto com o trabalhador, uma carta que conte a história de suas atividades ao longo de seu percurso profissional e, em seguida, convidar o participante a refletir sobre os enunciados produzidos. As entrevistas foram analisadas a partir do método construtivo-interpretativo e os seguintes indicadores foram definidos: a atividade docente em meio a imposição de atuar nas disciplinas de português e matemática; a relação com os colegas e os sentidos atribuídos ao trabalho. Os indicadores foram construídos, tendo em vista os impedimentos ou as ampliações do poder de agir dos professores que estavam associados às repercussões das avaliações externas na prática pedagógica. Os achados desta investigação sinalizam que os docentes são coagidos a trabalhar os conteúdos exigidos nos testes, de modo que a formação integral do discente e o papel dos professores ficam prejudicados. Os achados apontam que relações interpessoais sofrem os impactos da lógica de retribuição por desempenho, que promove individualismo e competição entre colegas. Ademais, os relatos dos participantes indicam que os docentes são destituídos do poder de deliberar sobre a organização da prática pedagógica e passam a perseguir objetivos diferentes daqueles que julgam como importantes, o que gera sentimentos de inutilidade e impede que estes profissionais se reconheçam no trabalho que realizam. Há, portanto, uma simplificação da finalidade educativa e o imperativo de prescrições verticalizadas que desprezam o contexto das instituições de ensino e amputam o poder de agir dos professores.