Itinerário Terapêutico de pessoas acometidas por amputação em decorrência de pé diabético: enredos de (des)cuidado.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Santos, Andressa de Andrade lattes
Orientador(a): Santos, Adriano Maia dos lattes
Banca de defesa: Santos, Adriano Maia dos, Louzado, José Andrade, Riquinho, Deise Lisboa
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC - IMS) 
Departamento: Instituto Multidisciplinar em Saúde (IMS)
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37843
Resumo: Introdução: O adoecimento crônico requer cuidados contínuos dos indivíduos e impõe que os modos de atenção à saúde incluam ações interprofissionais e interculturais. Assim, os sujeitos compõem seus itinerários terapêuticos, tanto via esfera institucionalizada dos serviços de saúde, quanto por meio no campo “informal” como práticas religiosas e medicações caseiras. Neste enredo, o modelo biomédico é predominante nos modos de organização dos serviços, nos processos de trabalho dos profissionais e na forma como os usuários constroem seus caminhos na rede de atenção à saúde – formal ou informal. Nesse contexto, o diabetes traz consigo implicações que exigem, muitas vezes, mudanças nas atividades cotidianas, nas relações sociais, familiares e de trabalho. Além disso, quando não controlado adequadamente, é responsável por diversas complicações, dentre as quais o pé diabético. O pé diabético é um problema muito grave, uma vez que é responsável por maiores chances de amputação de membros inferiores. Este estudo analisa os itinerários terapêuticos de indivíduos com amputação de membros inferiores em decorrência de pé diabético. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida com 20 pessoas que tiveram amputação de membros inferiores por pé diabético, residentes nas zonas rural e urbana de Vitória da Conquista, Bahia. A produção de dados envolveu entrevista semiestruturada em profundidade e os dados foram analisados mediante Análise Temática de Conteúdo, tendo como suporte teórico-metodológico a Análise Holística de Itinerários Terapêuticos. Resultados: Foram evidenciadas quatro dimensões: 1) Enfrentando o adoecimento - sentidos e significados conduzem comportamentos. A compreensão sobre o processo saúde-doença-cuidado influenciada sob o contexto sociocultural, definiu o momento de início da busca por cuidado. A ausência de sintomas retardou a busca por assistência e o conhecimento restrito sobre a doença condicionou o comportamento relutante. Além disso, o adoecimento trouxe sofrimento aos sujeitos que se sentiram impotentes diante do enfrentamento das complicações doença. 2) Lidando com as vulnerabilidades – aspectos econômicos e sociais marcam as decisões no IT. Os sujeitos viviam em vulnerabilidade socioeconômica e essa condição agravou-se com a amputação. Os longos períodos de espera na rede pública levaram os sujeitos a busca por serviços privados, incidindo negativamente na capacidade financeira das famílias, outrora agravando a situação de saúde diante da impossibilidade econômica em dar continuidade ao cuidado por essa via. Além disso, barreiras geográficas e econômicas dificultaram o acesso à saúde em tempo oportuno, uma vez que havia ausência de transporte sanitário; 3) Percalços no caminho – a busca por assistência nas arenas de cuidado. A procura por cuidado na rede formal foi empreendida majoritariamente pelo próprio usuário. Porém, a ausência de orientação e encaminhamentos por parte de profissionais da atenção primária à saúde (APS) a outros pontos de atenção pode ter retardado o cuidado oportuno. Esse cenário levou os usuários a procurarem por outras portas de entrada. Ademais, a ausência de contrarreferência para a unidade de saúde da família (USF) levou os usuários a procurarem a APS somente diante necessidades pontuais após a amputação. Junto ao cuidado na arena formal, os sujeitos concomitantemente utilizaram cuidados informais, que foram desde práticas religiosas a cuidados domésticos; 4) Experienciando o adoecimento – avaliações das vivências do cuidado. Longas filas de espera para consultas e exames retardou o cuidado oportuno, gerando insatisfação dos usuários. A ausência e rotatividade de médicos comprometeu a longitudinalidade na APS, levando os usuários a procurarem por esses profissionais na iniciativa privada. A pandemia também foi um importante limitador de acesso. Esses obstáculos geraram processos de judicialização evidenciando dificuldades de acesso presentes nos itinerários terapêuticos apontando disfunções do sistema de saúde. Considerações Finais: O itinerário terapêutico das diferentes pessoas sinalizou a multiplicidade de experiências e o (des)cuidado que perpassa as distintas arenas. Os aspectos simbólicos construídos a partir das vivências socioculturais dos sujeitos, compuseram compreensões acerca de saúde-doença-cuidado definindo escolhas e comportamentos durante os caminhos. A condição de vida cercada de vulnerabilidades ampliou os abismos de acesso à saúde, colocando os sujeitos em situações sociais ainda mais desfavoráveis. Os percursos, ainda, expuseram importantes entraves referentes a frágeis arranjos da rede de atenção à saúde, com incipiente coordenação do cuidado pela APS, deixando os usuários à mercê da construção de seu próprio mapa de cuidado.