Características funcionais da conectividade cerebral em estados alterados de consciência

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Toutain, Thaise Graziele L. de O. lattes
Orientador(a): Sena, Eduardo Pondé de lattes
Banca de defesa: Castellano, Gabriela lattes, Santana, Rejane Conceição lattes, Souza, Suzana Braga de lattes, Lima Filho, Humberto de Castro lattes, Araújo, Dráulio Barros de lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas (PPGORGSISTEM) 
Departamento: Instituto de Ciências da Saúde - ICS
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/39486
Resumo: Introdução: Os estados alterados de consciência (EACs) provocam alterações no pensamento, na memória, na percepção do tempo, na expressão emocional; geram despersonalização, experiências místicas transcendentais, expansão da consciência; distorções perceptivas, incluindo alucinações, pseudoalucinações, percepções aguçadas, dentre outros. Os EACs fazem parte do repertório comportamental do ser humano e podem ser classificados em três grupos: EACs espontâneos, induzidos e patológicos. Considerando a complexidade desses fenômenos, uma das maiores lacunas nas pesquisas desse campo é a falta de uma caracterização abrangente que englobe os diferentes tipos de EACs em uma abordagem dinâmica cerebral. Desta forma, uma caracterização destes estados aplicando redes funcionais cerebrais (RFCs) será capaz de acessar as nuances cerebrais, não possíveis de serem alcançadas com métodos estáticos pré-estabelecidos. Objetivos: Caracterizar, através de RFCs dinâmicas, a atividade cerebral de pessoas em diferentes EACs (patológico, induzido farmacologicamente e psicologicamente espontâneo), avaliando as características das redes cerebrais que convergem nestes diferentes estados. Além disso, considerando a existência de uma assinatura cerebral, propomos a investigação de possíveis alterações na assinatura cerebral durante os EACs, mais especificamente o transe mediúnico. Metodologia: Avaliamos a atividade cerebral por eletroencefalografia (EEG) de indivíduos nos diferentes tipos de EACs: Patológico―Esquizofrenia (EQZ) e Transtorno Depressivo Maior (TDM); Induzido Farmacologicamente―N,N-dimetiltriptamina (DMT) e Ketamina (KTM) e, Psicologicamente Espontâneo―Meditação (MD) e Transe Mediúnico, Psicografia (PSIC). Os dados de EEG públicos usados foram: EQZ e TDM (comparados com controles saudáveis (CS)); sob efeito da DMT e KTM (pareados com ‘sem DMT’ ou ‘sem KTM’) e, das meditações (Tradições Yoga do Himalaia (TH) e Isha Shoonya Yoga (ISHA) - pareados com atividade de pensamento ativo (PA)). Os dados das meditações Raja Yoga (RY) da Brahma Kumaris e Gurdjieff (GD) (ambos pareados com o relaxamento (RL)) e, os dados dos médiuns em transe são dados de coletas próprias. O grupo de médiuns (GM) realizou a psicografia (PSIC – que foi pareada com a escrita em vigília (EV) sem transe e, com o grupo controle (CT)). Tanto o GM quanto o grupo CT foram testados psicologicamente através das escalas Neupsilin, SCID-5, PANSS e Escala de Experiência Dissociativa (EED). As RFCs foram geradas com parâmetros padronizados (devido às diferentes características dos dados) utilizando o método de sincronização por motifs (SM) e analisadas usando os grafos variantes no tempo (GVT). Em seguida, foram avaliados os índices das redes considerando o tempo, de maneira global e local: grau ponderado (Kp), probabilidade de formação de hubs (PFH), path length (PL), E-I index (E-I), clustering coefficient (CC), coeficiente de variação da quantidade de aresta (CVA), coeficiente de variação da aglomeração (CVAG) e o tempo de sincronização completa (TSC). Além desses índices, nós propusemos um novo índice, para avaliar a interação entre as regiões cerebrais (IRC) nos EACs. O padrão / assinatura cerebral foi investigado através da distância entre as matrizes ponderadas. Resultados: De uma maneira geral, para EQZ comparado aos CS, encontramos diferenças significativas para os índices do Kp, CVA, PFH e IRC. Para TDM comparado aos CS, observamos diferenças para o Kp, PFH, PL, TSC, CVA, CVAG e IRC. Para a comparação entre o DMT e sem DMT, vimos que o Kp, E-I, PFH, PL, CVA, CVAG, TSC e IRC apresentaram diferenças significativas. A avaliação das redes, durante a KTM, apresentou diferenças para Kp, E-I, PL, CC, TSC e CVAG comparado a sem KTM. Para a avaliação entre as meditações e suas atividades controles (RY, GD vs. RL e ISHA, TH vs. PA), apenas GD (vs. RL) apresentou diferenças para os índices Kp, PFH, CC; e ISHA vs. PA para o E-I, CVA. Quando comparamos as meditações entre si (RY vs. GD vs. ISHA vs. TH), observamos diferenças para os índices E-I, CVA e IRC. Para as comparações entre o GM vs. CT, não encontramos diferenças intergrupos, apenas para o GM intrassujeito (PSIC vs. EV). Os testes neuropsicológicos indicaram que ambos os grupos, GM e CT, não apresentaram desordens mentais. O GM pontuou para percepções alucinatórias, mas não apresentou desordem esquizofrênica. A EED indicou que dois indivíduos do GM têm tendência à dissociação e nenhum do CT. Quanto aos índices das RFCs, encontramos diferenças entre PSIC vs. EV para CC, PL, CVA, CVAG e IRC. Os resultados da assinatura cerebral revelaram alterações dos padrões para o GM, tanto para a distância do delta intra-indivíduos quanto entre as tarefas PSIC comparadas ao EV e ao RL. Estes resultados foram opostos para o grupo CT, que não apresentou alterações da distância do delta intra-indivíduos, nem para as comparações entre as tarefas. Para relacionar todos os resultados dos grupos estudados com os índices das RFCs, realizamos a análise de componentes principais (PCA) que revelou que os índices que mais diferenciam os grupos foram: KP e PFH (PCA1) e, CVA e CC para a PCA2. Conclusão: Nós conseguimos identificar diferenças entre os EACs estudados, considerando seus respectivos estados controles, menos entre as meditações RY vs. RL e entre TH vs. PA. Através das RFCs, nós vimos que os EACs promoveram uma atividade elétrica cerebral diferente do estado habitual. A avaliação, por meio da PCA, revelou que os EACs como o transe experienciado pelo GM, EQZ, DMT e KTM compartilharam aspectos das RFCs em comuns. Apesar das limitações encontradas e das comparações exploratórias, nós destacamos as similaridades entre as características cerebrais do transe mediúnico, da esquizofrenia e do TDM sem, no entanto, apresentarem características patológicas associadas para o GM. O transe mediúnico promoveu alterações da assinatura cerebral. Essa descoberta destaca a necessidade de investigações mais aprofundadas para compreender as variações nos padrões cerebrais individuais durante diferentes EACs.