Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2017 |
Autor(a) principal: |
Oliveira, Orlando José Ribeiro de |
Orientador(a): |
Carvalho, Maria Rosário Gonçalves de |
Banca de defesa: |
Moreira, Marcello,
Souza, Cristiane Santos,
Câmara, Antônio da Silva,
Etchevarne, Carlos Alberto |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/23989
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Resumo: |
Sob a denominação genérica de folhas, determinadas espécies de plantas ocupam uma posição central nos rituais do candomblé, sendo-lhes atribuída eficácia simbólica (mágico-religiosa) e terapêutica (medicinal) que as tornam indispensáveis à própria existência do culto. Há, em Salvador, uma dinâmica da comercialização dessas folhas que se articula com as práticas da religiosidade afrobrasileira. Nesta tese, investiga-se a configuração do mercado das folhas a partir da circulação dessas mercadorias produzidas e comercializadas por extrativistas, horticultores e raizeiros, que as levam, regularmente, à Feira de São Joaquim, polo distribuidor, para outros circuitos do comércio retalhista (feiras, mercados, lojas e bancas de rua da cidade). O Mercado da Pedra, uma transação mercantil de grandes quantidades que transcorre durante a madrugada, foi a base empírica da pesquisa etnográfica, possibilitando a compreensão das estruturas e dos agentes sociais envolvidos nos domínios de produção, circulação e consumo das folhas. Em relação à produção, as folhas podem resultar de coleta (extrativismo) e de colheita (horticultura), provindo de áreas especialmente cultivadas, hortas e quintais, e de áreas naturais, manchas florestais remanescentes no entorno de Salvador e interior do Estado. A hegemonia do trabalho feminino, a transmissão intergeracional e oral do conhecimento étnico-referenciado sobre as plantas e seus usos e a proeminência das relações de parentesco entre os agentes sociais da produção e circulação na Pedra são elementos que permitem estabelecer aproximações com o contexto dos mercados africanos tradicionais. As interações entre vendedores e compradores, os mecanismos e as estratégias usados nas práticas cotidianas, a dimensão lúdica do trabalho e os vínculos religiosos constituem aspectos da sociabilidade dos agentes destacados na investigação. Situando-se na fronteira entre a dádiva e a troca mercantil, o mercado das folhas é objeto, nesta tese, de uma análise que se fundamenta, articuladamente, nas contribuições teóricas da Antropologia Econômica (Polanyi, Godelier) e da Sociologia Econômica, seja mediante a releitura dos clássicos (Mauss, Marx, Weber), seja buscando dialogar com os contemporâneos (Bourdieu, Nova Sociologia Econômica). Considerando-se as folhas como bens simultaneamente econômicos e simbólicos, i.e., reiterando-se seu duplo caráter de mercadoria e de objeto portador de poder mágico-religioso (axé), ensaia-se uma análise da metamorfose da mercadoria folha, inspirada no esquema de Enrique Dussel (2012), para discutir a transformação da matéria prima em produto-objeto por efeito do trabalho vivo, a partir dos seus comentários aos Grundrisse de Marx. São, então, ressaltadas as modificações formais pelas quais passam as folhas, desde sua condição de coisa natural, sua circulação como valor de troca no mercado, até a sua consumação (ritual/terapêutica) no âmbito religioso, quando assume a forma de ewê (erva sagrada). A singularidade do mercado das folhas em Salvador revela-se, dentre outros fatores, pela justaposição das duas esferas da circulação (simples e desenvolvida para Marx) que se entrecruzam, de forma dinâmica, articulando um mercado tradicional (de feitio “africano”) ao mercado capitalista contemporâneo. |