A contingência na psicanálise lacaniana: consequências teóricas e clínicas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Santos, Daniela Batista lattes
Orientador(a): Fernandes, Andréa Hortélio lattes, Cany, Bruno lattes
Banca de defesa: Cany, Bruno lattes, Marcos, Jean-Pierre lattes, Pontes, Suely Aires lattes, Alfandary, Isabelle lattes, Moretto, Maria Lívia Tourinho, Chatelard, Daniela Scheinkman, Fernandes, Andréa Hortélio
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) 
Departamento: Instituto de Psicologia
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/39854
Resumo: Lacan, a partir da década de 1970, produz um salto em relação à concepção freudiana do inconsciente – interpretável a partir da produção de sentido – e afirma que o inconsciente é real. Seguindo por uma via que vai além daquela tomada por Freud, no que se refere à interpretação, a psicanálise lacaniana tem como base a equivocidade da língua e a contingência. Para afastar a operação analítica da produção de sentido, Lacan faz um elogio ao equívoco e o posiciona como principal recurso contra o sintoma psíquico. O inconsciente real tem implicações inéditas na clínica psicanalítica a partir do momento em que o sintoma é considerado como um acontecimento de corpo e não mais como uma metáfora que demanda simbolização. Para trabalhar com o inconsciente real, é preciso levar em conta a contingência, pois, sem ela não há escritura. Mas o que seria a contingência para a psicanálise lacaniana? Como podemos localizá- la na teoria e clínica psicanalítica? A contingência para psicanálise é a mesma que para a filosofia? Para responder a essas questões, este trabalho visita conceitos da psicanálise como interpretação equívoca, sintoma como acontecimento de corpo, traumatismo, dizer e inconsciente real, analisando as principais características do último ensino do Lacan para poder destacar a importância e o papel da contingência. Para definir o que é a contingência para psicanálise, a sofística e a ontologia parmenidiana são exploradas e analisa-se termos como epideixis e kairós – traços do discurso do Górgias –, a epideixis se refere ao discurso como performance, transformador e produtor de realidades, e o kairós é o tempo oportuno, uma boa ocasião, um acontecimento e abertura dos possíveis. Um retorno ao poema do Parménides é realizado para analisar como o pai da ontologia exclui a contingência em sua referência ao ser, porém ele é refutado por Górgias que afirma que o ser só existe pelo fato de que é dito. As fórmulas da sexuação são trabalhadas, uma vez que Lacan posiciona a contingência do lado do não-todo fálico, afirmando anos depois que o analista deve ser não-todo. Para entender melhor a lógica do não-todo fálico e o caminho que Lacan traçou para construí-las, visito as modalidades lógicas e os silogismos aristotélicos, traçando um contorno nos detalhes que fazem com que Lacan construa uma lógica inédita para tratar da relação sexual impossível e do inconsciente real. O conceito de repetição é analisado a partir de sua relação com a tychê e o automaton através de um caso clínico. Esse caso é útil para demonstrar como a contingência é importante para a interpretação equívoca e o tratamento psicanalítico. Este trabalho também analisa o uso do termo contingência/contingente em todos os seminários do Lacan. Conclui-se que a contingência é uma escrita da verdade que desempenha um papel crucial para a clínica psicanalítica, tendo influência desde a efetivação da estrutura do sujeito, momento do traumatismo, até o final de análise.