“Os filhos da Zika”: significados atribuídos à associação entre microcefalia e epidemia do Zika vírus, por cuidadores das crianças afetadas e suas experiências de cuidado.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Oliveira, Tatiana Souza
Orientador(a): Castellanos, Marcelo Eduardo Pfeiffer
Banca de defesa: Iriart, Jorge Alberto Bernstein, Barros, Alessandra Santana Soares e
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32090
Resumo: A epidemia do Zika vírus, antes caracterizada como infecção branda, assumiu notoriedade do cenário nacional quando uma possível associação ao aumento do número de casos de microcefalia em crianças foi aventada. Da suspeita dos médicos até o reconhecimento pelo Ministério da Saúde, a sensação de incerteza só aumentava. O nascimento de crianças com malformações cerebrais, até então pouco visibilizado pela mídia e autoridades, tornou-se uma preocupação que exigia rapidez na tomada de decisões e necessidade de divulgar informações. Chama atenção como classes menos privilegiadas foram atingidas em sua maioria. Assim, o impacto familiar que este acontecimento tem causado e o processo de vulnerabilização a que as famílias mais atingidas estavam expostas há décadas no Brasil, despertaram o interesse sobre esta temática. Objetivo geral: compreender os significados atribuídos por cuidadores de crianças com microcefalia associada ao ZIKV a tal evento e se esses significados se relacionam (ou não) às suas experiências de cuidado. Objetivos específicos: identificar a visão dos cuidadores sobre a etiologia da microcefalia associada ao ZIKV e o eventual papel do Estado em relação ao controle de alguns dos seus condicionantes; compreender o olhar dos cuidadores frente à criança, considerando sua experiência de cuidado; identificar se as situações de vulnerabilidade a que estas famílias estão expostas, estão presentes em suas narrativas. Estratégias Metodológicas: Realizada pesquisa qualitativa envolvendo mães de crianças com microcefalia associada ao ZIKV atendidas na unidade Sarah/Salvador da Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor. Realizou-se, através de análise de prontuário, um levantamento sociodemográfico de 261 mães de crianças com diagnóstico de microcefalia e ZIKV, atendidas naquela unidade. Foram realizadas entrevistas semiestruturada com 25 dessas mães, gravadas e transcritas. Procedeu-se a análise temática de conteúdo das transcrições, orientada pelo Interacionismo Simbólico. Resultados: A maioria das mães atendidas são procedentes de bairros periféricos de Salvador e do interior, quanto a escolaridade predominou aquelas que cursaram até o ensino médio. Observou-se que as mães não têm dúvidas quanto a microcefalia ser uma consequência da contaminação pelo vírus. As mídias foram as principais fontes de informação. Apesar de reconhecer os riscos ambientais aumentados de exposição, a maioria das mães não as relacionam às desigualdades sociais. Os significados atribuídos à relação entre a epidemia e a microcefalia estão direcionados a experiências de ruptura biográfica, que situam os desafios enfrentados no contexto familiar e de trabalho. Esses desafios envolveram o abandono das atividades laborais, isolamento social e a necessidade de buscar ajuda para apoiar o cuidado compartilhado dos filhos. As relações de interação que emergiram com a epidemia, a gestação e nascimento de uma criança com microcefalia por ZIKV, levaram essas mães a ressignificar o cuidado dos filhos, seus projetos de vida e a se organizar como um novo sujeito coletivo. Considerações finais: Ao trazer para reflexão a compreensão das cuidadoras sobre o fenômeno, fomentamos o debate com o objetivo de dar visibilidade às crianças e suas famílias, visando a discussão de políticas que possam ampará-las diante do caráter permanente do adoecimento e da ausência do Estado como intermediador deste processo.