Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2020 |
Autor(a) principal: |
Resende, Leonardo Palloni Accetti |
Orientador(a): |
Japyassú, Hilton Ferreira |
Banca de defesa: |
Gonzaga, Marcelo de Oliveira,
Châline, Nicolas Gérard,
Silva, Bruno Vilela de Moraes e,
Dodonov, Pavel |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Biologia
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Ecologia: Teoria Aplicação e Valores
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32713
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Resumo: |
A socialidade nos animais evoluiu, independentemente, em diversos táxons, apresentando diversos níveis de complexidade, partindo das agregações para reprodução nas aves até sociedades altamente organizadas com divisão de trabalho e castas reprodutivas e estéreis, como nas formigas cortadeiras. As aranhas constituem um grupo especial, no sentido de que a socialidade é um fenômeno muito raro, ocorrendo apenas em 19 espécies dentro do universo de mais de 48 mil que já foram descritas. A hipótese mais aceita, para explicar a evolução da socialidade nas aranhas, apresenta os benefícios da vida em grupo na redução dos custos relacionados com a manutenção das teias e na proteção garantida pela permanência na teia natal. Além disso, a especialização comportamental no desempenho de tarefas específicas e o acesso a presas maiores são outras vantagens da vida coletiva para as aranhas. Apesar de serem bem estudados esses aspectos da aptidão das teias sociais, os mecanismos evolutivos, por trás de sua origem, foram pouco investigados. Essa tese apresenta a investigação de uma hipótese a respeito dos mecanismos evolutivos, que levaram a origem da socialidade nas aranhas e dos mecanismos ecológicos, que promovem a organização dessas sociedades. Essa hipótese baseia-se na premissa de que as aranhas são engenheiras de ecossistemas que modificam o ambiente para ajustá-lo às suas necessidades através da construção das teias. As teias, como um ambiente modificado, alteram o cenário evolutivo, alterando as pressões seletivas que agem sobre as populações que as habitam. Quando o ambiente transformado pela ação das aranhas promove mudanças que perpassam gerações causando mudanças evolutivas, temos a ação da construção de nicho como processo evolutivo. E nos três capítulos que compõem este trabalho, investigamos a ação da engenharia de ecossistemas, da construção de nicho como agentes do processo evolutivo da socialidade e orientadores na organização das sociedades. O primeiro capítulo apresenta um modelo teórico sobre a evolução da socialidade nas aranhas por meio da construção de nicho. Esse modelo teórico definiu a hipótese central, apresentando seus pressupostos e previsões. O modelo foi testado através da técnica de “Modelagem Baseada em Agentes” (ABM) desenvolvido no programa NetLogo, que nos permitiu criar simulações nas quais os parâmetros de nosso modelo teórico ditavam as regras. Os resultados das simulações nos mostraram que as teias com maior volume protegido contra o ataque de predadores e intempéries climáticas, permitiram a sobrevivência de indivíduos menos agressivos que a média. Isso promoveu o aumento na diferença comportamental entre os indivíduos, criando a base para a especialização comportamental e divisão de tarefas dentro do grupo. Esse processo aumentou a aptidão dessas agregações, dado que as colônias com maior amplitude de variação comportamental sobreviveram mais, evoluindo para as espécies sociais. O segundo capítulo apresenta um segundo modelo teórico com foco nas previsões ecológicas da hipótese geral, que explica como pode emergir a divisão de tarefas entre os indivíduos, dentro do grupo, a partir de diferenças na personalidade entre os mesmos de acordo com contextos ambientais específicos. Esse modelo também foi testado, via ABM, e desenvolvido no programa NetLogo. A partir dos resultados das simulações, pudemos testar estatisticamente o efeito das diferenças comportamentais individuais e do contexto espacial, na propensão de realização de tarefas específicas dentro do grupo. Encontramos que o efeito da personalidade, na determinação das tarefas executadas, foi muito fraco, mesmo com um número grande de amostras indicando que esse efeito deve ser praticamente nulo para determinar a tarefa que um indivíduo irá executar. Porém, talvez a personalidade não tenha, de fato, sua importância sobre a determinação direta das tarefas que um determinado indivíduo irá executar, sendo esse talvez o papel da experiência social através das redes de interação e da aprendizagem. Por outro lado, tenha sua importância em um aspecto mais fundamental, como na geração das condições iniciais para que os outros fatores possam emergir e promover a especialização e a divisão de tarefas em si. O terceiro capítulo apresenta um estudo empírico, manipulativo com foco nas previsões ecológicas da hipótese central, que foi desenvolvida em campo com colônias de aranhas em seu ambiente natural. Aqui o objetivo principal foi observar, na natureza, as colônias de aranhas sociais, registrar os padrões de distribuição espacial e de realização de atividades dos indivíduos. Os dados coletados foram analisados estatisticamente, através de modelos lineares generalizados mistos (GLMMs), para testar se a distribuição espacial dos indivíduos na teia e as tarefas que eles realizavam na colônia se aproximava das previsões obtidas pelos modelos computacionais. Os modelos mostraram que as personalidades dos indivíduos influenciam a distribuição deles sobre a teia, sendo os ousados mais frequentemente observados na vela e os tímidos no cesto, porém não influenciam nas atividades que eles desempenham. Concluímos que os indivíduos se segregam espacialmente na teia, de acordo com as suas personalidades, porém, ao contrário do previsto, a personalidade não se mostrou importante na determinação da tarefa desempenhada pelo indivíduo. A personalidade parece ter um papel indireto na divisão de tarefas, dentro do grupo, ao influenciar a distribuição espacial dos indivíduos. Finalmente, propomos que a heterogeneidade ambiental, incluindo àquela criada por engenharia de ecossistemas, pode gerar pressões seletivas sobre as propriedades inerentes dos indivíduos, como a personalidade, em favor da fidelidade espacial e da especialização de tarefas em grupos sociais. Tal aspecto traz mais evidências de que as grandes teias construídas pelas aranhas sociais não são apenas fruto da vida social desses animais, mas também promovedoras da própria socialidade. |