Derivas do texto, derivas da vida. Corpo, escrita e cultura em Virgílio de Lemos, Waly Salomão e Al Berto.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2005
Autor(a) principal: Ornellas, Sandro Santos
Orientador(a): Telles, Lígia Guimarães
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11457
Resumo: A tese parte do valor indecidível da escrita. Sendo historicamente, por um lado, avaliada como uma técnica a serviço do poder, a escrita emerge como materialidade instrumental de inscrição e impressão de uma memória cultural e histórica de uso monumentalizante do passado. Sob a guarda onipresente da língua, uma escrita pode ser alçada à condição de “tesouro da língua”, se se conforma à idéia de imaterialidade, isto é, à condição de valor social em si. Isso acaba por naturalizar a língua enquanto discurso e engendra uma cena originária como motivo organizador de uma dada cultura. Por outro lado, a escrita também arrasta consigo formas mais sutis e finas de transgressão à ordem institucional da língua, sendo colocada, pois, junto ao corpo como força de deslocamento, pela sua precariedade, instabilidade e polimorfismo. Paralelo a isso, a tese detém-se também no corpo como importantíssimo ator no arranjo que constrói a escrita nesse limiar, optando-se, no entanto, em tomá-lo no seu sentido forte, isto é, de mídia primeira dos processos tanto históricos quanto cognitivos de criação e de transgressão. No caso dos poetas Virgílio de Lemos, Waly Salomão e Al Berto, respectivamente, de Moçambique, do Brasil e de Portugal, a prática da escrita se quer – cada uma à sua maneira – saturada dos ruídos do corpo, ganhando o contorno de gestos que vão de figuras de erotização até o flerte com a morte, passando pela vocalidade presente no gesto de escrever. Se o sistema-escrita lançou o homem no tempo linear da razão, esses poetas exploram possíveis fendas selvagens do sistema-escrita em língua portuguesa, inscrevendo traços que podem ser lidos como a emergência de corpos tribais em uma história transnacional. Na medida em que eles subvertem a língua – “tesouro do luso” – pelo uso que fazem da suas economias significantes, também deslocam, às vezes mais, às vezes menos sutilmente, a violência da cena originária de suas culturas.