Tornar-se homem transexual: as fronteiras do gênero e a performatividade no processo transexualizador.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Cruz, Larissa Edite de Magalhães Porto lattes
Orientador(a): Marsico, Giuseppina lattes
Banca de defesa: Marsico, Giuseppina lattes, Pinheiro, Marina Assis lattes, Pontes, Vivian Volkmer lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) 
Departamento: Instituto de Psicologia
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/40526
Resumo: Culturalmente, como reprodução da linguagem binária e cisheteronormativa, o gênero é tido como um prolongamento do sexo lido durante o nascimento de toda pessoa. Neste sentido, por meio do que for identificado enquanto genitália, será atribuído o gênero masculino ou o feminino e haverá o pareamento entre pênis/masculino e vagina/feminino. Serão ensinados valores, comportamentos e papéis sociais diferentes para essas duas categorias que são tidas como opostas. Essa realidade é mediada por signos e significados que irão contribuir com uma falsa impressão de essência do gênero, como se a pessoa naturalmente já nascesse com essas características. Porém, muitas existências não se percebem dentro desses moldes binários que esquadrinham e controlam os corpos, dentre elas, estão as pessoas transexuais. Há uma carência de literatura que busque compreender o processo transexualizador da pessoa transexual, tomando como base as suas próprias experiências, as quais precisam ser descoladas de critérios de diagnóstico que as universalizam e as patologizam. Considerando a importância de serem desenvolvidas mais pesquisas em relação à construção da perfomatividade de homens transexuais, a presente dissertação assume como lente teórica a Teoria da Performatividade de Butler (2003) e a Psicologia Cultural Semiótica. Assim, pretendeu-se com este trabalho investigar o seguinte problema de pesquisa: Como se caracteriza a performatividade de gênero no processo transexualizador de homens transexuais? Para tanto, esta pesquisa teve como objetivo geral: Compreender a dinâmica das fronteiras semióticas no tornar-se homem transexual e objetivos específicos: 1) Investigar os signos e significados compartilhados por homens transexuais sobre o se perceber pessoa transexual, 2) Analisar os atos perfomativos no percurso de tornar-se homem transexual e 3) Discutir os campos de tensão e ambivalência que emergem nas fronteiras semióticas frente ao processo transexualizador. Participaram do trabalho dois homens transexuais de locais diferentes. O primeiro do município de Feira de Santana-BA e o segundo do município de Santo Antônio de Jesus- BA. Para a produção dos dados, foi utilizado como instrumento a entrevista narrativa Jovchelovich e Bauer (2002). Como recurso de evocação para a entrevista narrativa foi solicitado aos participantes que levassem fotos, objetos ou qualquer material que fossem considerados como importantes em seu processo transexualizador. Além disso, foi utilizada a dinâmica adaptada “Meu presente/Meu futuro” de Serrão e Baleeiro (1999, p. 326). Para a coleta de dados, foram efetuados dois encontros presenciais e a análise de dados foram desenvolvidas por eixos temáticos. Os resultados indicaram que no caso do homem transexual, o corpo materializado pela linguagem não se adequou de maneira fidedigna às normas, pois quando se rompe com o caráter hegemônico, nota-se que há uma fenda nessa linguagem. Significa dizer que, o corpo durante a repetição incessante e paródica destes atos, gera um espaço que simultaneamente torna as fronteiras semióticas do gênero permeáveis para outras formas de performar os gêneros, escapando da combinação pênis x masculino, vagina x feminino. Nota-se uma falta de protagonismo em relação a experiência de homens trans. Há uma carência de literatura, políticas públicas, formação profissional e redes de apoio que estabeleçam uma maior compreensão desses corpos.