A CONCORDÂNCIA NOMINAL DE NÚMERO NO PORTUGUÊS DO INTERIOR DA BAHIA: INTERFERÊNCIA DO CONTATO ENTRE LÍNGUAS?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: ASSIS, THAMIRIS SANTANA COELHO lattes
Orientador(a): SILVA, MARIA CRISTINA VIEIRA DE FIGUEIREDO
Banca de defesa: SANTOS, LANUZA LIMA, SILVA, MARIA CRISTINA VIEIRA DE FIGUEIREDO, SOUSA, LILIAN TEIXEIRA DE, CYRINO, JOAO PAULO LAZZARINI, OUSHIRO, LÍVIA, COBINNAH, ALEXANDER
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37585
Resumo: Neste estudo, analiso a variação no uso da concordância de número no sintagma nominal (CN) no português popular do interior da Bahia (sede e zona rural) dos Municípios de Poções e Santo Antônio de Jesus, com o objetivo de discutir o status sociolinguístico desse fenômeno num continuum linguístico (BORTONI-RICARDO, 1998, 2005; LUCCHESI, 2015), que de um lado está o português rural afro-brasileiro baiano (ANDRADE, 2003, 2006; BAXTER, 2009) e do outro, o português popular urbano de Salvador (LOPES, 2001). Conforme Lucchesi (2000), o fenômeno da CN afeta os dois extremos das normas linguísticas culta e popular, polarizando-as: a aplicação da regra de CN é muito mais favorecida nas comunidades urbanas e desfavorecida na zona rural. A hipótese principal deste trabalho é de que o português do interior da Bahia seja uma variedade intermediária tendo em vista que as comunidades em estudo mantêm contato com essas duas normas linguísticas. Tendo como referencial teórico-metodológico a Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]), verifico o comportamento das variáveis linguísticas e extralinguísticas no uso da CN nos corpus do português do interior da Bahia, acervo do Projeto Vertentes (Universidade Federal da Bahia). Analisei os dados da fala de 48 informantes dos sexos masculino e feminino, com pouca ou nenhuma escolaridade, distribuídos em três faixas etárias (25-35; 45-55; mais de 65 anos), recorrendo ao tratamento estatístico do o programa R (R Core Team, 2021), com a interface RStudio. Os resultados gerais confirmam a hipótese levantada, pois o percentual de aplicação da regra de CN perfez 17,3% dos dados, sendo intermediário aos resultados do português afro-brasileiro e do português de Salvador. Além disso, na zona rural das comunidades em estudo a aplicação da regra é menos favorecida, comportamento semelhante ao que se verifica no PB de modo geral. Dentre as variáveis linguísticas, destacam-se a configuração sintagmática do SN e o número de constituintes flexionáveis do SN, revelando que a presença de um item com valor semântico de plural favorece a concordância. O resultado da saliência fônica destoa da maioria dos estudos sobre a CN. Quanto à variável saliência fônica, o resultado obtido demonstra que não favorece a aplicação da regra, contrariando alguns trabalhos sobre o tema (LOPES, 2001; ANDRADE, 2006). A análise estatística das variáveis sociais indica que os homens realizam mais a concordância que as mulheres, e que a escola não possui um papel tão forte como agente de difusão da norma de prestígio. Os resultados da faixa etária indicam uma tendência aquisicional com os falantes mais jovens aplicando mais a regra de concordância do que os mais velhos. Para explicar a correlação entre as características tipológicas do português e das línguas bantu, adoto a perspectiva da evolução das línguas a partir da competição e seleção de traços (MUFWENE, 2002, 2008) e da teoria nula (ABOH, 2015; ABOH e DEGRAFF, 2017). Defendo que, durante o período de colonização do Brasil, teria ocorrido um processo de reanálise gramatical na aquisição do português como segunda língua em que os prefixos das línguas bantu foram reinterpretados seguindo a manutenção inicial da gramática de aglutinação dos elementos funcionais observados nas línguas bantu, o que justificaria a marcação de plural apenas no primeiro elemento do SN.