(Contra)mestiçagem negra: pele clara, anti-colorismo e comissões de heteroidentificação racial

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Rodrigues, Gabriela Machado Bacelar
Orientador(a): Carvalho Filho, Milton Júlio de
Banca de defesa: D’Adesky, Jacques, França, Denise Carrascosa, Müller, Cíntia Beatriz, Carvalho Filho, Milton Júlio de
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/34195
Resumo: Essa dissertação trata das dinâmicas de autodeclaração e de heteroclassificação raciais das pessoas negras, com pele clara, em Salvador, a partir da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com base no estudo etnográfico realizado durante os trabalhos da Comissão de Aferição da Autodeclaração Étnico-Racial da Universidade. A pesquisa possibilitou observar o curso de formação dos membros, evento anterior à seleção dos candidatos, e o próprio dia da aferição. Os componentes da banca, estudantes e ex-estudantes da UFBA foram ouvidos, seja por meio de entrevistas ou conversas sobre o tema, como parte do processo metodológico da pesquisa. Entre os estudantes, foi contemplada a audição tanto dos aprovados quanto dos reprovados no processo de heteroclassificação. A pesquisa também se voltou à observação de redes sociais da Internet, visando compreender como discussões sobre o tema estão sendo apropriadas por uma comunidade mais ampla que o espaço acadêmico. Esse trabalho assume que os negros de pele clara são os “pardos” das categorias de cor ou raça do IBGE e, assim observa nos indicadores sociais a posição desse grupo em relação às outras categorias. Isso revelou como, desde a proposição de que pardos mais pretos compõem a população negra brasileira, na década de 70, os indicadores continuam demonstrando a semelhança de posições entre ambos os grupos. Já na pesquisa bibliográfica, a categoria “pardos” foi problematizada, no sentido de compreender as maneiras em que foi usada por teorias sociais, elaboradas a partir do/sobre o Brasil, desde os teóricos do branqueamento e entusiastas da democracia racial, até os dias atuais. Essa busca revela que o “pardo” é utilizado de maneiras diversas, em referência a diferentes estereótipos raciais. A pesquisa analisa também uma atualização recente nas perspectivas sobre as relações raciais no Brasil. Essa nova proposta, ainda em formação no país e pouco apropriada pela sociedade brasileira, incorpora o “colorismo” como chave para discutir miscigenação. O conceito aparece inserido em discussões sobre o “privilégio pardo” ou sobre possíveis trânsitos raciais, como aponta, por exemplo, a ideia de “passabilidade”, tema bastante presente nos discursos sobre o colorismo. O lugar social dos pardos e seus correlatos na sociedade brasileira, desde a atribuição do termo “mulato”, apresenta uma grande variação de denominações, muitas delas com conteúdos pejorativos, como “afrobeges” e “afroconvenientes”. Esses termos, engatilhados pelo colorismo, apontam para falta de legitimidade na autodeclaração negra desses indivíduos de pele clara. O que se chama de anti-colorismo, nesse trabalho, é a proposta de que o conceito, “colorismo”, seja reexaminado pelo contexto das relações raciais do Brasil, dando lugar a uma concepção que pensa a racialização de modos distintos. A diversidade das experiências negras ocorre a partir do posicionamento de diferentes marcadores sociais, como o pertencimento de classe ou a identidade de gênero, por exemplo. A pele clara, ao ser analisada como um desses marcadores, informa um processo de racialização desses pardos desde uma posição complexa, que envolve o mito da democracia racial e a miscigenação dentro da população negra.