Fatores individuais, da habitação e da atenção à saúde relacionados à incidência e desfechos de tratamento da hanseníase Salvador – Ba.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Teixeira, Camila Silveira Silva lattes
Orientador(a): Silva, Rita de Cássia Ribeiro
Banca de defesa: Barreto, Maurício Lima, Nery, Joilda Silva, Pescarini, Júlia Moreira, Sanchez, Mauro Niskier, Silva, Rita de Cássia Ribeiro
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia. Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-ISC)
Departamento: Instituto de Saúde Coletiva - ISC
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37765
Resumo: Introdução: Apesar do grande progresso em direção à eliminação global, a hanseníase continua sendo um desafio para a saúde pública em países de baixa e média renda. Evidências atuais sugerem que, nesses países, os contatos domiciliares de pacientes com hanseníase estão sob alto risco de desenvolver hanseníase. O tratamento oportuno é crucial para interrupção da transmissão, mas fatores de vulnerabilidade socioeconômica e de atenção à saúde podem influenciar a adesão e conclusão do tratamento da hanseníase, dificultado ainda mais o alcance dos objetivos de eliminação da hanseníase. Além disso, pesquisas apontam que componentes da inadequação habitacional se associam à maior carga da hanseníase. Contudo, não existem evidencias da associação entre um programa social de habitação e hanseníase; o que justifica aprofundamento do tema. Objetivo geral: Estudar os fatores de risco para incidência e adesão ao tratamento da hanseníase, e o efeito de um programa social de habitação para pessoas de baixa renda na sua detecção. Objetivos específicos: i) Estimar as taxas de detecção de novos casos de hanseníase entre contatos domiciliares de pacientes previamente diagnosticados com hanseníase e investigar seus fatores associados; ii) Investigar a associação entre as características sociodemográficas, geográficas e clínicas, e a chance do paciente de completar o tratamento em unidades de saúde da atenção primária e especializada; iii) Estimar as chances de detecção da hanseníase entre indivíduos que se tornaram beneficiários do MCMV em comparação com suas contrapartes que não se beneficiaram do programa MCMV. Métodos: A tese foi apresentada em 3 artigos segundo cada objetivo específico. Para execução do primeiro objetivo acompanhamos contatos domiciliares de pacientes com hanseníase (2007-2014), usando dados do baseline da Coorte de 100 Milhões de Brasileiros vinculadas ao Sistema de Informação para Doenças Notificáveis (SINAN). A incidência de hanseníase foi estimada como a taxa de detecção de casos novos (TDCN) de hanseníase por 100.000 contatos domiciliares em risco (pessoas/ano em risco - par). Foram utilizadas regressões logísticas multiníveis de efeitos mistos, com efeitos aleatórios específicos do estado e da família; no segundo objetivo, avaliamos todos os novos casos de hanseníase registrados SINAN no Brasil (2006-2017), vinculados aos dados da unidade de saúde de diagnóstico do paciente com informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). As análises bivariada e multivariada foram realizadas por meio de modelos de regressão logística. Todas as análises foram estratificadas de acordo com o nível de atenção à saúde, como atenção primária e unidades especializadas e hospitalares; e no terceiro objetivo, conduzimos um estudo de caso-controle aninhado à Coorte de 100 Milhões de Brasileiros (2010-2015). Os casos foram selecionados entre os indivíduos dessa coorte que foram detectados como um novo caso de hanseníase. Os controles foram selecionados aleatoriamente com base em uma amostragem dos conjuntos de risco e de acordo com variáveis de correspondência (2:1). Usamos regressão logística condicional para estimar a associação. Resultados referentes ao primeiro objetivo: Entre 42.725 contatos domiciliares de 17.876 casos primários, a TDCN foi 636,3/100.000 par no total e 521,9/100.000 par nos contatos <15 anos. Contatos domiciliares de casos multibacilares tinham maior chance de se tornarem casos subsequentes (ORadj 1,48; IC 95% 1,17-1,88), e as chances aumentaram entre contatos com idade ≥50 anos (ORadj 3,11; IC 95% 2,03-4,76). A detecção da hanseníase foi negativamente associada ao nível de educação pré-escolar/analfabeto (ORadj 0,59; IC 95% 0,38-0,92). Para as crianças, as chances aumentaram entre os homens (ORadj 1,70; IC 95% 1,20-2,42). Resultados referentes ao segundo objetivo: Entre 218.646 novos casos de hanseníase diagnosticados no Brasil entre 2006-2017, 196.562 (89,9%) completaram o regime de PQT. Para os tratados na atenção primária à saúde, as menores chances de conclusão do tratamento foram associadas a idades entre 15-29 anos (ORadj 0,57; IC 95% 0,52-0,61), negros (ORadj 0,86; IC 95% 0,81-0,91), raça/etnia indígena/asiática (ORadj 0,85; IC 95% 0,74-0,97) e educação de escola primária ou inferior (ORadj 0,81; IC 95% 0,78-0,87). A hanseníase multibacilar com ≤10 lesões (ORadj 0,92; IC 95% 0,88-0,96) e deficiências físicas grau 1 ou 2 (ORadj 0,91; IC 95% 0,88-0,95 e ORadj 0,86; IC 95% 0,81-0,93, respectivamente) reduziram as chances de conclusão do tratamento. Residir em áreas urbanas (ORadj 1,12; IC 95% 1,08-1,17) e nas regiões Sudeste/Sul (ORadj 1,17; IC 95% 1,10-1,24) ou Centro-Oeste (ORadj 1,13; IC 95% 1,07-1,19) aumentaram as chances de conclusão do tratamento. Na região Nordeste, as chances de conclusão do tratamento foram reduzidas (ORadj 0,86; IC 95% 0,82-0,90). Tanto a assistência especializada quanto a hospitalar apresentaram estimativas pontuais semelhantes. Resultados referentes ao terceiro objetivo: A população do estudo de coorte (2010-2015) incluiu 25.259.564 indivíduos, dos quais 621.068 (2,5%) eram beneficiários do MCMV. Nesse período, foram diagnosticados 9.036 novos pacientes com hanseníase e foi estimada uma TDCN em 11,70/100.000 par (IC95% 11,46-11,94). A TDCN foi maior entre os beneficiários do MCMV (13,27/100.000 par; IC95% 11,41-15,43) em comparação com os não beneficiários (11,59/100.000 par; IC95% 11,35-11,84). As chances de se tornar um caso de hanseníase foram 26% maiores entre os indivíduos expostos ao recebimento do MCMV (OR 1,25, IC95% 1.01 a 1.53, p <0.038) em comparação aos não expostos ao programa MCMV. Conclusões: Os resultados deste estudo destacam a necessidade urgente de intervenções em saúde pública, como a triagem de contatos, que visem especificamente essa população exclusivamente vulnerável. Além disso, foi possível observar que as ações de controle da hanseníase ainda não são realizadas de maneira uniforme em todo o Brasil. Portanto, é necessária uma abordagem integrada a partir de ações de diagnóstico precoce, monitoramento, avaliação das deficiências e fortalecimento do manejo da hanseníase na atenção básica, para o controle da hanseníase de acordo com as Estratégias Globais da Hanseníase. Por fim, os nossos resultados evidenciaram maior chance de detecção de hanseníase entre pessoas beneficiárias de habitação social, o que demonstra que o tempo de exposição à nova habitação pode não ter sido suficiente ainda para superar os problemas sociais e de saúde enfrentados por estas famílias pobres e extremamente pobres. Ressalta-se que políticas sociais como o MCMV devem ser aprimoradas e estendidas ao maior número possível de famílias carentes, pois o desenvolvimento social é uma prioridade fundamental para reduzir a incidência e a carga da hanseníase entre as pessoas de baixa renda. Pesquisas futuras devem estudar o efeito do programa social de habitação MCMV sobre a hanseníase e explorar se os resultados deste trabalho se manterão por um período mais longo.