Por você ser negra e pobre, tem esse direito negado: um estudo sobre direitos reprodutivos de mulheres negras com doença falciforme em Salvador

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Silva, Gabriela dos Santos
Orientador(a): Mota, Clarice Santos
Banca de defesa: Barbosa, Maria Inês da Silva, Cordeiro, Rosa Cândida, Trad, Leny Alves Bomfim
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduação em Saúde Coletiva
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26482
Resumo: O novelo gênero, raça e classe constituem uma chave explicativa privilegiada para compreender a produção das desigualdades e iniquidades sociais, sobretudo, se considerarmos aspectos estruturais e dinâmicos que permeiam esses elementos nos processos de dominação a serviço do capitalismo, do patriarcado e do racismo. Tal enovelamento e seus desdobramentos tem impactado na vida das mulheres negras com doença falciforme de diferentes formas. Na saúde, esse processo se expressa nas políticas, programas, serviços de saúde e práticas de cuidado, destacando-se para efeitos deste estudo o âmbito da saúde reprodutiva. Ele intervém também nas experiências de socialização, uma vez que os discursos relacionados com as pessoas com doença falciforme ainda se encontram recheados de estereótipos e discriminações de classe, de raça e de gênero. O estudo teve como objetivo compreender qual a percepção de mulheres negras com doença falciforme acerca de direitos reprodutivos e questões raciais, a partir da discussão do conteúdo de um programa de triagem populacional voltado à identificação de pessoas com traço ou doença falciforme. O referido programa de triagem populacional não foi implementado na cidade de Salvador graças à mobilização e denúncias de movimentos sociais. Contudo, seu discurso além de resgatar práticas outrora utilizadas pela ciência eugênica, ainda ecoa em práticas e discursos na sociedade, especialmente no campo da saúde. Trata-se de um estudo qualitativo exploratório, sob a perspectiva feminista e antirracista. Adotou como estratégias metodológicas a análise documental e entrevistas em profundidade com dez mulheres negras com DF, com idades variando entre 20 e 49 anos de idade, moradoras de bairros periféricos e populares, oriundas de famílias de baixa renda. O material produzido por ambas as fontes foi analisado à luz da análise de discurso de Michel Foucault. A construção dos discursos acerca da trajetória convivendo com doença falciforme denota marcas no percurso de toda uma vida. Essas trajetórias indicam a maneira de viver, como lidar com o corpo e a dinâmica das relações sociais, assim como o estar no mundo, a realidade concreta e singular de cada pessoa. Os discursos das interlocutoras deste estudo demarcam o espaço que ocupam enquanto mulheres negras com doença falciforme. Assim, evidenciam situações relacionadas ao sofrimento, quando sentem que o cuidado à saúde é negligenciado. Em muitas dessas vivências, a indiligência dos direitos reprodutivos era a fonte causadora de sofrimento, tanto pela maneira como profissionais de saúde compreendem esses direitos das mulheres com doença falciforme, quanto pelos impactos subjetivos e psicológicos ao escolher exercer a maternidade. Além disso, constatou-se a relação do programa de triagem populacional com estratégias eugênicas, com foco nas questões de classe, raça e gênero. A luta pela atenção à saúde de qualidade das mulheres negras com doença falciforme é um desafio, devido a tantas mazelas que perpassam suas vidas. A luta passa, necessariamente, pela concretização das políticas do Sistema Único de Saúde, no combate todas as formas de desigualdades sociais, raciais e de gênero, contribuindo para dar fim a cultura de violência e subalternidade das mulheres negras.