Exportação concluída — 

Digitalização de si e transmasculinidades: a constituição de subjetividades gendradas e a produção de saberes no Facebook

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Ferreira, Sérgio Rodrigo da Silva lattes
Orientador(a): Natansohn, Leonor Graciela lattes
Banca de defesa: Rodrigues, Alexsandro, Jesus, Jaqueline Gomes De, Dalmonte, Edson Fernando, Ribeiro, José Carlos Santos, Natansohn, Leonor Graciela
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas ( POSCOM) 
Departamento: Faculdade de Comunicação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37850
Resumo: A transgeneridade masculina diz respeito às pessoas que não estão em conformidade com o gênero que lhes foi atribuído pela cisgeneridade compulsória e que se constituem e se expressam como sujeitos no espectro das masculinidades. Entendemos cisgeneridade compulsória como a lógica normativa binarista e biologizante que atrela invariavelmente uma materialidade do corpo em suas características sexuais a uma identidade de gênero. Nesta tese, pelo método genealógico e com uma estratégia de coleta e análise de dados de caráter qualitativo, conversamos com homens trans e analisamos suas produções na plataforma de rede social Facebook com o objetivo de compreender o agenciamento tecnológico sobre a produção de subjetividades gendradas. Apresentamos os resultados evidenciando a constituição mútua de uma racionalidade na conduções dos sujeitos na dimensão micropolítica (governamentalidade), daqueles discursos que são considerados verdadeiros (veridicção) e dos modos que nos tornamos e somos tornados um “Eu” com certas especificidades (processo de subjetivação) e seus atravessamentos tecnológicos sobre corpos e práticas digitalizadas de sujeitos transmasculinos. Como resultados, temos que o Facebook é utilizado pelos interlocutores para se informarem, debaterem, se expressarem, se organizarem, se conhecerem, se relacionarem, ajudarem e serem ajudados por outras pessoas, para fins profissionais e de entretenimento. Ele permite também acesso a informações cruciais sobre transgeneridade (autorreconhecimento, hormonização, organização política, direitos e legislações, acesso a serviços etc.) e sobre políticas das masculinidades. Também é apontada como uma rede que fomenta uma performance militante sobre causas políticas. Do ponto de vista da masculinidade, a produção on-line desses homens busca desnaturalizar a masculinidade cisgênera e normalizar as transmasculinidades em seus aspectos constitutivos. Sua produção se articula especialmente em discursos que afirmam que são homens “de verdade”, mesmo sem um pênis de carne fixado ao corpo, mesmo sem serem violentos, mesmo com um corpo construído com tecnologias sexuais, passando por transição ou não, mesmo tendo que juridicamente retificar prenome e sexo, e mesmo podendo engravidar. A articulação vai na produção de normalidade para as identidades transmasculinas como um campo de batalha semiológico. Configura-se também no movimento teórico de afirmação das identidades cisgêneras como forma de desnaturalizar suas dinâmicas, hierarquizações e ações de estigmatização, marginalização e desumanização daqueles corpos que estão em desacordo com suas matrizes normativas. Entretanto, ao considerarmos a governamentalidade algorítmica e a mineração de dados que ocorrem no Facebook, chegamos à conclusão de que as inserções entre as vivências e as estratégias de autoregistrar-se, narrar-se e relacionar-se nessa ambiência estão constantemente gerando dados consentidos ou não pelos usuários. Esses dados são capturados ainda não organizados, tratados e estruturados na criação de um perfil baseado nas relações entre eles (perfil que não corresponde ao sujeito “real”, mas a uma produção maquínica a partir dessa relação de dados). Como resultado, temos, de um lado, uma maior coesão de ideias comuns de afinidade entre homens trans, o que facilita articulações políticas entre eles, mas que, de outro, cria um ambiente imunizado para a possibilidade da diferença.