Resumo: |
Este estudo buscou promover o encontro literário entre Machado de Assis e Lima Barreto, escritores de fundamental importância para a Literatura Brasileira, cujas vastas produções, compreendem romances, contos, crônicas, crítica literária, ensaios e artigos, acerca da produção literária e cultural brasileira, e têm como pano de fundo o século XIX, entre o Segundo Reinado e as primeiras décadas da fase republicana. Nesse arco histórico, Machado de Assis (1839-1908) e Lima Barreto (1881-1922), ambos escritores afrodescendentes, de modesta origem social, com antepassados vítimas do tráfico humano para a escravidão, vivenciaram experiências derivadas da dinâmica socioeconômica e política de seu tempo e lugar históricos. Tais experiências – do morro do Livramento à Academia Brasileira de Letras, para Machado, e entre os subúrbios fluminense, as repartições públicas, a imprensa do Rio e o ambiente manicomial, para Lima – são retomadas, tendo em vista o olhar cético e crítico, revelado pelos dois escritores. Fundamentada na hierarquia de classe e das raças, a dinâmica social posta em destaque, nos romances das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e do Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, fomentou relações espúrias de dependência de classe, racismo e exclusão dos pobres e marginalizados sociais. O Brasil imperial de D. Pedro II e a República, em seus primórdios de acirrado viés militarista e autoritário, forneceram os temas que, mostrando uma desconcertante atualidade, sob variados nuances ficcionais e interpretativos, foram reconfigurados nas obras literárias dos dois escritores. Centrado na análise dos romances das Memórias póstumas de Brás Cubas, lançado em 1881, e do Triste fim de Policarpo Quaresma, cuja primeira edição é de 1915, este estudo também tece o diálogos entre tais narrativas ficcionais e outras obras de seus autores, além de lançar luzes sobre os projetos literários de Machado e de Lima, tendo em vista o fato de ambos terem revelado o Brasil, a partir do interior de instituições caras ao imaginário cultural e político brasileiro, como a família tradicional, o patriarcado, o ambiente intelectual das letras e do jornalismo, a Abolição, a República, a natureza íntima de importantes figuras públicas, expostas, satirizadas e ironizadas em suas atitudes injustas, suas fragilidades morais e vontade de poder. |
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