Por nós, pelas outras, por mim: a política feminista da Marcha das Vadias Recife

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Hermida, Viviane Menezes lattes
Orientador(a): Sardenberg, Cecília Maria Bacellar lattes
Banca de defesa: Piscitelli, Adriana lattes, Rodrigues, Cristiano Santos lattes, Macedo, Márcia dos Santos, Alvarez, Sonia, Sardenberg, Cecília Maria Bacellar
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM) 
Departamento: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH)
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/34733
Resumo: Esse estudo teve como objetivo compreender como os discursos e práticas da Marcha das Vadias Recife (MVR) se inserem no âmbito do feminismo brasileiro contemporâneo. Para isso, foi reconstruída a trajetória da MVR no período de 2011 a 2017, com atenção aos seus contornos locais. Foram analisadas as conexões entre corpo e política na MVR considerando tanto o modo como o corpo aparece em suas reivindicações como em seu repertório de protesto. Foi também discutida a abordagem da MVR sobre a dimensão racial, em articulação com as dimensões de gênero, sexualidade e classe. Adotando uma abordagem epistemológica feminista do conhecimento situado, foi realizado levantamento de dados disponíveis na Internet; levantamento de fotografias da MVR; inserção etnográfica, de abordagem feminista e engajada, da sétima edição da MVR (2017), incluindo processos preparatórios; entrevistas individuais e grupo de discussão com integrantes do Coletivo Marcha das Vadias Recife. Os referenciais incluíram estudos sobre trajetórias do feminismo brasileiro; os conceitos de sexagem e apropriação, elaborados no âmbito do chamado feminismo materialista francófono; aportes do pensamento feminista negro, com uso do conceito de interseccionalidade, enriquecido por abordagens históricas e perspectivas decoloniais que tratam da mútua constituição de gênero, raça, classe e sexualidade na América Latina, desde o período colonial. Os dados levantados demonstram que a Marcha das Vadias Recife faz parte de um conjunto de expressões feministas iniciado na década de 2010, marcadamente urbanas e jovens, em que a Internet desempenha papel fundamental, com forte presença pública nas ruas e nas redes sociais, organizadas por pequenos grupos que geram uma plataforma aberta à expressão individual e coletiva, sem a mediação, ao menos inicial, de organizações de referência do movimento feminista. Os dados demonstram também que a MVR está em pleno vigor, atuando a partir de um coletivo com razoável organicidade, atraindo milhares de mulheres para as marchas anuais, participando ativamente de debates públicos e estabelecendo alianças no campo feminista. Com suas pautas políticas – em que a autonomia sobre o corpo e a liberdade sexual ocupam lugar central –, e com seu repertório de protesto – no qual o corpo aparece como suporte para suas mensagens, a partir de inscrições de frases de luta em seus corpos e de performances individuais e coletivas, as integrantes da MVR questionam concepções hegemônicas sobre as mulheres, confrontando a apropriação das mulheres. A dimensão racial apresenta-se como um ponto de tensionamento para a MVR, com críticas aos limites de suas práticas e discursos para contemplar experiências de mulheres negras e de classes populares. A partir da pesquisa, ficou evidenciado o esforço das organizadoras para aprimorar a abordagem da questão racial, promovendo debates, dialogando com organizações de mulheres negras e pautando publicamente a questão, o que vem impactando a configuração do coletivo organizador, sua atuação e política de alianças.