Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2023 |
Autor(a) principal: |
Cantore, Alfonsina
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Orientador(a): |
Enriz, Noelia
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Alves, Paulo Cesar Borges
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Banca de defesa: |
Alves, Paulo Cesar Borges,
Lorenzetti, Mariana,
Carvalho, Maria Rosário Gonçalves de,
Leavy, Pia,
Cruz, Felipe Sotto Maior,
Enriz, Noelia |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
spa |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Bahía
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS)
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Departamento: |
EDUFBA
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
https://repositorio.ufba.br/handle/ri/38939
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Resumo: |
O tema central desta tese aborda a gravidez e parto como um evento que não se manifesta de modo unívoco em diferentes grupos ou pessoas. Ou seja, não se resume a uma condição homogênea, como poderia ser pensado desde uma perspectiva biologicista. Pelo contrário, o processo de gravidez e parto é concebido como uma experiência que envolve múltiplas dimensões. A tese focaliza a maternidade das mulheres mbyá guarani ao norte de Misiones, Argentina. Ela recupera as vozes de mulheres que vivem em comunidades nos arredores de Puerto Iguazú, onde os vínculos com o sistema público de saúde são cotidianos e, cada vez mais, as mulheres controlam suas gestações e têm suas/seus filhas/os no hospital da cidade. A pesquisa promove uma análise contextual e histórica na qual as mulheres não são representadas como um pano de fundo em suas comunidades, nem como relutantes em estabelecer diálogos (muitas vezes regados a tensões) com o sistema público de saúde. Assim, busca-se registrar os pontos de vista das mulheres mbyá guarani em relação a sua gestação, por meio de suas vozes e práticas. Nas experiências de gravidez e parto, combinam-se elementos diversos que geram múltiplas formas de ser mulher e vivenciar as maternidades. Com isso, este trabalho está estruturado em quatro capítulos centrados em diferentes tópicos: as corporalidades, as expectativas sanitárias, os cuidados e as tecnologias. Os dois primeiros capítulos apresentam discussões em abordagem teórica, sem deixar de fora registros de campo, mas que visam abrir discussões com os enfoques clássicos sobre o tema. Debate-se as representações sobre os corpos das mulheres e os sistemas de saúde como circuitos fechados. No primeiro capítulo, mostrarei que não se trata de um processo individual, mas sim que se corporifica e experimenta por meio de laços sociais específicos. Nessa linha, também discutirei que a maternidade seja simplesmente o papel das mulheres e tentarei refletir sobre a importância de atravessar processo de engravidar e dar à luz para essas mulheres. No segundo, focarei nas expectativas como categoria que permite distaciar do sistema de saúde como um todo homogêneo e recupera as projeções das diferentes pessoas, instituições e discursos circundantes, questionando o que se espera das grávidas e quais discursos recaem sobre elas. Nos capítulos três e quatro, o eixo estruturador são as trajetórias de cuidado, momento em que as vivências das mulheres se tornam mais presentes. No terceiro capítulo, as referências se concentram especialmente na problematização do cuidado e as pessoas que acompanham a gravidez e o parto. Este capítulo é central para toda a tese, pois se concentra na ideia de cuidado e retoma as histórias de vidas das mulheres e pessoas próximas. O acompanhamento adquire uma dimensão significativa e observamos como é colocado em prática de maneiras diferentes de acordo com o gênero. No quarto capítulo, abordo os agentes não humanos que participam dessas trajetórias, focalizando em três tecnologias: as reprodutivas, as comunicativas e as cidadãs. Os dados que sustentam esses capítulos são especialmente as narrativas dessas mulheres ou de seus acompanhantes. Esses dispositivos possibilitam questionar que a identidade étnica se limita a padrões culturais do ser mbya ou é perdida quando são incorporados objetos com uma história ocidental de reprodução, ou tecnologias digitais, ou aquelas que geram maiores vínculos com o Estado. Por meio desses elementos, será possível compreender como são recriadas não só as relações com o sistema público de saúde, mas também comunitárias e parentais. Para concluir, mostrarei que a gravidez e o parto envolvem práticas e conhecimentos heterogêneos e que são sempre experiências situacionais e multidimensionais. Assim, o aqui e agora etnográfico de onde a gravidez e o parto são vistos nos permite concluir que se trata de um processo mutável e comunitário. |