LOUCO, MALUCO E SEUS SEGUIDORES E A FORMAÇÃO DE UMA ESCOLA DE ESCULTURA EM CACHOEIRA (BAHIA)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Pêpe, Suzane
Orientador(a): Cunha, Marcelo
Banca de defesa: Cunha, Marcelo, Antonacci, Maria, Hernandez, Maria, Nepomuceno, Nirlene, Pereira, Cláudio Luiz
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR EM ESTUDOS ÉTNICOS E AFRICANOS
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/18383
Resumo: Esta tese aborda a trajetória de escultores de trabalhos de madeira, autodidatas, atuantes em Cachoeira, cidade do Recôncavo baiano, a partir de 1960, e sua produção artístico-artesanal, como parte de um sistema cultural em que se destacam manifestações religiosas de matrizes africanas e católicas. Entendendo a atividade artística como prática simbólica com intenções estéticas e considerando as suas dimensões culturais e econômicas, observa que a produção plástica decorre da interação de processos individuais e coletivos, e que a sua interpretação se faz mediante a compreensão do contexto em que ela emerge. Traça a genealogia desses escultores afrodescendentes, tendo como ponto de partida a vida dos artistas apelidados de “Louco” e “Maluco”, antes comerciantes e barbeiros, passando pela trajetória de seus seguidores (filhos, sobrinhos, enteados e amigos) e chegando à terceira geração. Expõe o contexto de ascensão de Louco nos anos 1970 e 1980, marcados por políticas voltadas à valorização do patrimônio arquitetônico e ao turismo, e trata da legitimação das culturas de matrizes africanas, assim como do aumento da procura por esculturas e objetos rituais, nos anos 1980 e 1990, pelos adeptos das religiões afro-brasileiras. Aborda os processos artísticos utilizados, a transmissão dos conhecimentos técnicos e da iconografia, os meios de produção e de comercialização, além de discorrer sobre como esses bens simbólicos começaram a ser reconhecidos como arte primitiva, popular, negra e afro-brasileira, categorias que circulam entre comerciantes, críticos e historiadores da arte, algumas das quais se tornaram alvo de políticas de incentivo à cultura no Brasil. Por fim, oferece subsídios para a interpretação do sentido das imagens compreendendo o contexto histórico e religioso da cidade, assim como mitos, ritos e circunstâncias históricas favoráveis à formação de uma iconografia centrada nas religiões de matrizes africanas e católicas e na afirmação do negro como indivíduo. A tese resulta de pesquisa desenvolvida entre 2008 e 2014, cuja metodologia compreende procedimentos da etnografia, biografia e iconografia, considerados adequados à investigação, que partiu tanto da fala dos escultores e de outros membros da comunidade, quanto da análise de imagens-objeto. Também foram colhidos dados em arquivos e bibliotecas de instituições situadas em Cachoeira, São Félix e Salvador. Conclui que os artistas estudados não são artistas rituais, mas seus trabalhos tanto ganham função estética circulando fora da Bahia e do Brasil, quanto podem assumir função religiosa. Várias produções apresentadas neste trabalho são exemplos da arte afro-brasileira, entendida como aquela produzida em ambientes socioculturais nos quais afrodescendentes são seus protagonistas e que, sem perder de vista referências das culturas de matrizes africanas, aborda temas que dizem respeito a religião, ancestralidade, poder ou costumes africanos, recriados no Brasil a partir da interação com outras matrizes culturais. A arte afro-brasileira pode estabelecer diálogos com as culturas da África tradicional, contemporânea e com as de outras regiões da diáspora negra.