Feminismo negro e interseccionalidade: a invalidação de corpos femininos negros em Eu sei porque o pássaro canta na gaiola (1969), de Maya Angelou e o Olho mais azul (1970), de Toni Morrison

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Braz, Ana Beatriz Santos
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/4226223913390462, https://orcid.org/0009-0007-8478-4883
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Amazonas
Instituto de Ciências Humanas e Letras
Brasil
UFAM
Programa de Pós-graduação em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/10606
Resumo: Este trabalho analisa os romances O olho mais azul, de Toni Morrison, e Eu sei porque o pássaro canta na gaiola, de Maya Angelou sob um viés feminista. O objetivo da pesquisa foi investigar as representações de corpos femininos negros figurados nas obras, relacionando essas representações às questões hierárquicas de gênero, oportunizando, a partir destas duas perspectivas, a exploração da interseccionalidade nas experiências cotidianas de indivíduos que sofrem opressões de raça, gênero e classe. A narrativa de Morrison tem como personagem principal Pecola Breedlove, uma menina negra de 12 anos, que vive em situação precária, tanto comunitária quanto familiar. Eu sei porque o pássaro canta na gaiola tem Maya como personagem principal, sendo caracterizada como uma autobiografia de Angelou. Além disso, é possível estabelecer paralelos com a obra de Morrison, uma vez que a autobiografia também aborda a exploração, inferioridade e invisibilidade do corpo feminino negro, questões que manifestam nas duas personagens femininas o desejo de possuir características físicas ocidentais que lhes possibilitariam experiências sociais positivas. A pesquisa realiza uma abordagem teórica e crítica em relação ao contexto histórico e social do feminismo negro, utilizando como base autoras como Davis (2016); hooks (2014; 2019); Ribeiro (2018); Mbembe (2018), além de outras teóricas que propiciam uma compreensão tanto histórica quanto social das vivências de pessoas negras em sociedades ocidentais, evidenciando que houve uma construção de imagem negativa sobre esta comunidade, o que se evidencia ainda mais sobre a mulher não-branca. Além disso, percebeu-se a necessidade de investigar além das questões de gênero e raça, uma vez que as discriminações sofridas por mulheres negras são fundamentadas também na situação de pobreza na qual essas pessoas recorrentemente estão situadas. Sendo assim, utilizou-se, nesta pesquisa, o letramento interseccional de Crenshaw (1991; 1989), além das contribuições de Akotirene (2019) e Bilge e Collins (2020) para corroborar com os estudos e discussões acerca da teoria interseccional, como forma de abranger as diversas formas de opressão que estabelecem um sistema de desmoralização muito superior sobre a figura feminina não-branca. A partir do paralelo estabelecido entre estes dois objetos de estudo, considera-se que as narrativas envolvem reflexões acerca de questões sociais relevantes, com foco no histórico de desmoralização imposto sobre figuras negras. Por fim, a pesquisa evidenciou o quanto os diversos tipos de opressões podem influenciar na trajetória de vida de pessoas negras, mais especificamente mulheres, pois, embora Pecola e Maya tenham tido destinos diferentes, observou-se como suas trajetórias possuem similaridades de preconceito, tragédias, abusos, entre outras formas de opressões que colocam mulheres negras em situação de submissão potencializada. Neste sentido, a análise desta pesquisa contribuiu para reafirmar a importância da interseccionalidade no processo de reflexão e compreensão destas questões sociais que colocam pessoas em situação de marginalização a partir dos processos de hierarquização perpetuados na sociedade.