Impactos espaciais e temporais do alagamento do reservatório de uma mega hidrelétrica no sudoeste da Amazônia brasileira sobre a diversidade taxonômica e funcional de morcegos Phyllostomidae
Ano de defesa: | 2021 |
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Autor(a) principal: | |
Outros Autores: | , |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal do Amazonas
Instituto de Ciências Biológicas Brasil UFAM Programa de Pós-graduação em Zoologia |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/8254 |
Resumo: | A Amazônia brasileira possui aproximadamente 90% (~ 95 MW) de potencial de energia não explorado e agências governamentais planejaram estudos para a construção de 254 novas barragens de hidrelétricas na região amazônica em um futuro próximo. Embora as usinas hidrelétricas têm sido promovidas como fontes de energia mais limpas, o barramento dos rios interrompe a continuidade do rio e causam a inundação dos ecossistemas ribeirinhos e terrestres adjacentes. A inundação das terras baixas causa perturbação direta na abundância e na composição das espécies, em particular nas espécies diretamente associadas aos gradientes inundados. A maioria dos dados disponíveis sobre os efeitos das barragens de hidrelétricas são como imagens estáticas de certos estágios pós-inundação resultantes de projetos de curto prazo, muitas vezes realizados anos após o enchimento do reservatório. Para uma melhor compreensão dos impactos ambientais das barragens hidrelétricas sobre as espécies silvestres, é aconselhável avaliar os impactos antes e depois das cheias do reservatório. Os morcegos são excelentes indicadores da saúde dos ecossistemas, particularmente os morcegos Phyllostomidae, que são altamente diversos tanto em riqueza de espécies quanto na sua ecologia. A perda de habitat por interferência humana tem sido repetidamente identificada como a principal ameaça à sobrevivência de muitas espécies de morcegos, mas os efeitos do estabelecimento e operação de usinas hidrelétricas nas assembleias de morcegos ainda são mal compreendidos. O objetivo geral dessa tese foi avaliar os efeitos espaciais e temporais da inundação do reservatório da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, alto Rio Madeira, Estado de Rondônia, integrando dados de morcegos amostrados em áreas que seriam inundadas e não inundadas antes da construção da hidrelétrica com dados coletados em áreas não inundadas após o barramento do rio. A tese é composta por três capítulos que avaliam diferentes aspectos dos efeitos temporais e espaciais do enchimento da barragem na composição taxonômica e funcional dos morcegos. No capítulo 1, um total de 49 parcelas distribuídas ao longo das áreas que serão inundadas pela barragem e as que permanecerão secas foram amostradas. Como preditores da distribuição das espécies, eu testei as variáveis de estrutura da vegetação e topografia. Um total de 2306 morcegos pertencentes a 58 espécies foram capturados. A composição de espécies diferiu amplamente entre as parcelas secas e as parcelas localizadas em áreas que serão inundadas, e isso foi fortemente associado às variáveis área basal da floresta e elevação do terreno. Variáveis relacionadas à vegetação também tiveram forte influência na distribuição das guildas dos morcegos. A inundação de áreas de elevações mais baixas irá afetar negativamente o número de espécies e a abundância de espécies frugívoras. Em contraste, é provável que os animalívoros sejam menos vulneráveis às inundações induzidas pela barragem, uma vez que foram mais abundantes nas áreas que não se espera serem inundadas. No capítulo 2, eu amostrei 12 parcelas que seriam inundadas (pré-inundado) após o estabelecimento da barragem e 34 parcelas que permaneceriam secas (pré-não inundado). Das parcelas que permaneceram secas, 25 delas foram reamostradas após o represamento do rio (pós-barragem). Um total de 3096 morcegos pertencentes a 59 espécies foram capturados. As taxas de captura e o número de espécies foram semelhantes entre as parcelas pré-inundado, pré-não inundado e pós-barragem. Por outro lado, a composição de espécies e de morcegos frugívoros diferiu entre os três tipos de parcelas, com uma clara discriminação das parcelas de várzea do período pré-inundado. A comparação entre as parcelas secas pré- e pós-barragem mostrou que 60% das parcelas diminuíram na abundância e 68% das parcelas diminuíram na abundância dos morcegos frugívoros. No capítulo 3, foram amostradas as mesmas parcelas do capítulo 2. A inundação das terras baixas aumentou significativamente a diversidade α taxonômica e funcional e a singularidade funcional das assembleias dos morcegos. Eu encontrei fortes evidências de uma mudança nas características funcionais após o represamento do rio Madeira, com um aumento na frequência de morcegos animalívoros e uma redução dos fitófagos. Os resultados da diversidade β funcional mostram que o β total resulta do β substituição funcional - substituição de caracteres ponderada pela abundância das espécies - e não pela perda ou ganho de traços funcionais. Os resultados dessa tese mostraram que os efeitos do barramento do Rio Madeira pela Usina Hidrelétrica de Santo Antônio foram rápidos, observados nos primeiros dois anos após a inundação do reservatório. As assembleias dos morcegos das florestas de várzea foram as mais impactadas pela formação do reservatório e não foram incorporadas nas áreas remanescentes não inundadas depois da construção da barragem. A implantação do reservatório não reduziu o número de espécies de morcegos, mas os morcegos frugívoros responderam negativamente com uma perda geral de abundância após a inundação do reservatório. Como novos barramentos de hidrelétricas estão planejados para a Amazônia, eu recomendo a adoção de uma legislação voltada para hidrelétricas que incorpore a criação de unidades de conservação com especial atenção para os tipos de vegetação permanentemente suprimidos. Essa estratégia de gestão da conservação deve ser financiada pelas empresas produtoras de energia. |