Memória, testemunho, trauma e luto em Você vai voltar pra Mim e outros contos, de Bernardo Kucinski
Ano de defesa: | 2018 |
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Autor(a) principal: | |
Outros Autores: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal do Amazonas
Faculdade de Letras Brasil UFAM Programa de Pós-graduação em Letras |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/6766 |
Resumo: | Este trabalho discute a questão da memória, do testemunho, do trauma e do luto na obra Você vai voltar pra mim e outros contos, de Bernardo Kucinski. Nas considerações iniciais, que nomeio de “O corte”, trato do contexto histórico em que a ditadura civil-militar se instalou, do papel da Comissão Nacional da Verdade e sobre como a obra analisada aqui surgiu através dos relatos contidos nas sessões da CNV. No primeiro capítulo, trago ao leitor um pouco da biografia de Bernardo Kucinski, sua vida como jornalista, professor universitário e a posterior transformação em escritor de literatura. Logo após, faço um pequeno resumo sobre as obras literárias publicadas pelo autor. Trato ainda do conceito teórico da Memória, trabalhando com a questão da memória coletiva em Lucena (2014), sobre a força da memória em Sarlo (2007), a não preservação da memória e as suas consequências em Costa (2011) e a fala de Hobsbawn (2011) sobre o presente contínuo a que os jovens estão submetidos. Sobre o testemunho, uso o conceito de Salgueiro (2012) para definir o que é uma testemunha em um amplo sentido; a partir de Selligmann-Silva (2006), sobre o problema do testemunho em Agamben (2008) e Avelar (2003). Falo também a importância do testemunho em Sarlo (2007) e sobre o uso da literatura para testemunhar em Valéria de Marco (2004). Logo após, falo propriamente sobre o trauma, tendo como base teórica os psicanalistas Sigmund Freud e Sándor Ferenczi. Para aprofundar o tema, uso os teóricos Avelar (2003), Antonello (2016), Santos (2010) e Selligmann-Silva (2008). A fim de pontuar mais especificamente acerca do recalcamento, inicialmente desenvolvido por Freud, utilizo a fala de Maria Paiva (2011). Sobre a resiliência, destaco o que postula Brandão (2009), o qual diz que o conceito de resiliência se tornou bastante diverso, visto que sua interpretação mudou ao longo do tempo, assim como Rudge (2009) nos alerta sobre como o trauma tomou o mesmo caminho, sendo difícil caracterizá-lo por conta das diversas correntes conceituais que se formaram ao longo do tempo. No último tópico do primeiro capítulo, falo sobre o luto e me volto novamente para as reflexões de Freud (2006). Uso Paulo Endo (2013) e Zucolo (2014) para aprofundar o conceito sobre o tema e Teles (2017) para refletir sobre como o silenciamento, o não luto, ainda hoje faz do Brasil um país que não resolve os seus traumas históricos. Adentrando nos três capítulos posteriores, todos de análise, trago, em cada um deles, um tema específico, a saber: a mulher, a família e a clandestinidade. No capítulo sobre o papel da mulher na ditadura, construo a discussão a partir dos contos “Você vai voltar pra mim”, “Joana” e “A beata Vavá”. Na primeira narrativa, o aspecto mais visível é a da mulher na prisão, dos abusos e da colaboração do poder judiciário para legitimar os abusos de direitos humanos. Em “Joana”, o foco maior é na procura de uma resposta pelo seu marido que foi preso, torturado e desapareceu durante os anos de repressão política. Em “A beata Vavá” o trabalho se concentra na luta da mãe para salvar o filho das mãos dos torturadores, um conto em que Kucinski destoa do resto da obra e flerta com o gênero Fantástico. No capítulo sobre a questão familiar, os contos analisados são: “O velório”, “Tio André” e a “A mãe rezadeira”. No primeiro, temos a dor de um pai que “enterra” o filho desaparecido como uma forma de resiliência e/ou protesto perante aos acontecimentos das últimas décadas e a finitude de sua vida; no segundo, Kucinski escreve sobre uma sobrevivente após o trauma de ser torturada pela repressão política, denunciando o Estado e sua negligência com quem foi vítima da ditadura; no terceiro, reflito sobre a dor de uma mãe que tem o filho preso, sendo testada ao saber que o filho pode ser solto depois do sequestro de uma autoridade, mas sendo tomada pelo medo do filho, se solto, ser morto pelas forças de repressão. No capítulo sobre a clandestinidade, trago os contos: “Sobre a natureza do homem”, “A troca” e “Dodora”. O primeiro é uma narrativa que mostra destruição de uma militante de esquerda depois das torturas e suas consequências; o segundo externa a difícil decisão de cumprir uma pena, renunciar à luta e voltar a ter uma vida normal ou continuar se rebelando contra a ditadura; e o terceiro trata sobre a pressão e a traição da vida na clandestinidade. Nas considerações finais, que nomeei de “A ferida”, discuto sobre a questão do revisionismo da ditadura pela população, o discurso da “Ditabranda”, que foi defendida em um editorial de um veículo de grande circulação nacional e a ascensão do discurso militarista na nossa sociedade. |