Violência familiar na infância, violência no namoro e saúde mental na adolescência

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Faus, Daniela Porto
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/18006
Resumo: O objetivo geral desta tese foi conhecer as magnitudes e os padrões das violências no namoro na adolescência (VNA) e das violências familiares na infância (VFI), as repercussões da VFI nos diferentes padrões de VNA, bem como as relações entre os padrões de VFI e a saúde mental na adolescência. O objetivo geral suscitou três objetivos específicos, cada um explorado em um manuscrito. Os dados usados na tese derivaram da pesquisa “Estupro de vulnerável e outras violências contra adolescentes e jovens do sexo feminino”, desenvolvida em 2017 e 2018 que contou com a participação de 721 estudantes de escolas públicas e privadas da IX Região Administrativa (RA) do Rio de Janeiro. Para identificar a VNA, a VFI e estimar a saúde mental, usou-se respectivamente as versões brasileiras do instrumento Conflict in Adolescent Dating Relationships Inventory (CADRI), do Childhood Trauma Questionnaire (CTQ) e do General Health Questionnaire (GHQ-12). As estratégias de análise de dados variaram em função dos diferentes objetivos/manuscritos. O manuscrito 1 estimou as magnitudes de exposição e perpetração das VNA entre os escolares da IX RA do município do Rio de Janeiro. A prevalência de vitimização variou de 16,7% (sexual) a 94,6% (emocional). A prevalência de perpetração variou entre 9,9% (sexual) e 94,6% (emocional). Os adolescentes que relataram serem vítimas de violência na infância, os que vivem em áreas violentas e os que consomem bebidas alcoólicas com maior frequência tiveram maior prevalência de VNA. Os manuscritos 2 e 3 utilizaram análises de classes latentes (ACL) para identificar os padrões de VNA (manuscrito 2) e o padrão de VFI (manuscrito 3) com base na agregação de indivíduos em classes, caracterizadas em função da probabilidade de endosso aos diferentes itens dos instrumentos CADRI e CTQ. Além da identificação destes padrões, buscou-se utilizar as classes estimadas em modelos causais aferindo os efeitos das dimensões de VFI para os padrões de VNA (manuscrito 2) e das classes de VFI para a saúde mental dos adolescentes (manuscrito 3). No manuscrito 2, identificou-se três classes latentes de VNA entre meninas e meninos. O abuso sexual na infância aumentou a chance de pertencer à classe mais grave de vitimização de VNA entre as meninas (OR = 5,72; IC 95% = 2,51-13,06). Os abusos emocionais (OR=5,97; IC 95% = 1,95-18,30) e físicos (OR=3,16; IC 95%=1,07-9,34) aumentaram as chances de classificar os meninos na classe mais grave de perpetração de VNA. A ACL do manuscrito 3 também identificou três classes de violência familiar na infância, tanto em meninas, como em meninos. Apesar de várias semelhanças entre as classes dos dois sexos, as meninas foram mais vítimas de abuso sexual e os meninos de punição corporal (castigo físico). Pertencer à classe mais grave de VFI aumentou os escores do GHQ-12 em 2 a 3 pontos quando comparados às classes mais brandas de violência. A partir destes resultados e com as discussões trazidas pelos três manuscritos, espera-se que esta tese tenha contribuído tanto com as discussões temáticas das violências, como apresentado alguns avanços metodológicos no campo da análise epidemiológica. Com relação aos primeiros aspectos, mais uma vez, evidenciou-se que a violência entre pais e filhos é um problema de saúde pública, por sua alta frequência e relações diretas e especificas com a violência no namoro de adolescentes; ampliou-se também os debates sobre a relação entre as violências e o gênero, na medida em que tanto as prevalências como os padrões de violência diferem entre meninos e meninas desde a infância; identificou-se padrões de violência que mostram que a vivência de diferentes tipos de abuso é a situação mais frequente entre crianças e adolescentes; percebeu-se que as repercussões das violências contra crianças na saúde mental de adolescentes dependem do padrão de coocorrência das diferentes formas de vitimização infantil. Com relação aos avanços metodológicos, a tese é inovadora por propor, pela primeira vez no Brasil, a utilização de ACL para caracterizar as violências contra crianças e em relacionamentos amorosos de adolescentes. Ademais, a tese avança ao articular a identificação de padrões de violência via análise de classes latentes com seus fatores de risco e consequências, ampliando as possibilidades de inferência dos modelos.