(Sobre)viver na zona de quase-morte: o (des)fazer do cuidado em saúde mental a pessoas negras no cotidiano pandêmico da Baixada Fluminense

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Solaterrar, Ueslei
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/22457
Resumo: A pandemia de COVID-19 provocou um acirramento dos tons necropolíticos do tempo passado-presente futuro. Tempos marcados também pelas tentativas de reexistência. Ao olhar para a gestão do sofrimento como loucura e transtorno mental, chega-se aos manicômios, instituições forjadas para excluir, tratar e mortificar o sujeito nomeado como “louco” e “doente mental”. E quando além de “louca”, essa pessoa é negra e moradora da Baixada Fluminense? O objetivo geral desta tese foi investigar a gestão do cuidado em saúde mental para pessoas negras em Jacutinga, município do território da Baixada Fluminense, durante o período em que se estendeu a pandemia (2020-2022). A aposta metodológica é a da etnografia multissituada e da metodologia do encontro que toma a perspectiva ubuntu como inspiração. Os planos de análise passam pela proposta que chamo de triangulação do cuidado. O cuidado para o campo da atenção psicossocial, como defendo, é um cuidado que só pode ser vivido por meio da sua triangulação. Ou seja, um movimento que considere a todo o tempo as dimensões teórico-epistemológica, política e clínico-institucional. O material trazido para análise teve como critério o meu encontro com estes a partir dos afetos que os mesmos produziram em mim durante o período estudado. O eixo estruturante foi a memória, a dimensão do resgate das minhas memórias das experiências vividas. O uso da fotografia e do desenho como recurso de registro do vivido e instrumento de pesquisa e análise dos dados também foi acionado na costura desta investigação. Quanto ao tratamento analítico dos dados, optou-se pela análise socioantropológica, pela perspectiva analítica interseccional e pela perspectiva fanoniana. A tese está dividida em duas partes, a primeira, olha a gestão dos cuidados a partir de um plano macro, a segunda, por meio de um plano de análise micro. A divisão entre micro e macro aqui é apenas para fins didáticos e da escrita de uma tese no formato acadêmico tradicional. Mas, defendo que o macro tem o micro, e vice-versa. Na primeira parte, argumenta-se pelo caminho da radicalidade, pelo caminho da Reforma à Revolução Psiquiátrica brasileira. Realizou-se análise do (des)fazer do cuidado através dos documentos e do desmonte da Política Nacional de Saúde Mental e análise das (des)articulações entre a Política de Saúde Mental e a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Na segunda, olho para as exceções ordinárias no cotidiano pandêmico do CAPS III de Jacutinga e discuto sobre os (des)encontros entre raça, maternidade e loucura no encontro com duas mulheres negras, lidas socialmente como loucas. As noções de corpos-zumbi e zona de quase-morte são propostas como como lentes que nos ajudam a enxergar a gestão e governo das vidas e corpos dos usuários loucos, negros e pobres da saúde mental. Quem tem medo da morte? Quem tem medo do fim do mundo? Quem tem medo de habitar a Zona de Não-Saber? Se é possível gestar corpos-zumbi, é possível transmutá-lo. Se é possível (sobre)viver na zona de quase-morte, é possível dissolvê-la. Portanto, esta tese é um manifesto pela morte, uma espécie de funeral. Mas, não de qualquer funeral, um funeral sem luto, sem choro, nem vela.