Incantatrix tropical: bruxaria e resistência feminina no Brasil colonial
Ano de defesa: | 2021 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Psicologia Brasil UERJ Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/17632 |
Resumo: | Neste trabalho, a partir da perspectiva da história das mulheres e das relações de gênero, procurou-se compreender os discursos e as práticas das mulheres, tanto quanto o imaginário produzido sobre o feminino durante o período colonial brasileiro, através da análise do fenômeno da bruxaria e de sua perseguição pelo Tribunal da Santa Inquisição. Tendo as crises e transformações profundas e irreversíveis da Modernidade como pano de fundo, a construção do estereótipo da bruxaria diabólica e a consequente perseguição marcaram o caminho das mulheres. A intolerância em relação a elas foi diretamente proporcional à desestruturação do feudalismo e da unidade religiosa católica, com a Reforma Protestante; seguida pela expansão do capitalismo mercantilista, a construção do sistema colonial, o fortalecimento das monarquias absolutistas modernas e a reorganização estrutural da Igreja, através da Contra-Reforma. Assim, entre o século XV e meados do século XVIII, estes acontecimentos se desenrolaram ao mesmo tempo em que as fogueiras foram acesas para as mulheres consideradas bruxas diabólicas em toda a Europa. Esta repressão sistemática ao feminino jamais havia ocorrido e, pode-se considerar que a perseguição às mulheres foi, fundamentalmente, uma perseguição aos saberes e costumes tradicionais das camadas populares. A história das mulheres como resistência emerge, assim, demonstrando os seus poderes ocultos e difusos; e a história da bruxaria e da perseguição às mulheres-bruxas no Brasil colonial que se pôde contar, através das fontes aqui analisadas, é uma história de conflitos, de marginalização e criminalização da cultura popular, de misoginia e tentativa de “adestramento” das mulheres às normas e aos interesses das camadas dominantes, mas é também a história da formação de um povo, a partir da interrelação entre diferentes culturas e etnias, de sua religiosidade sincrética, de seus saberes ancestrais e das mulheres, mulheres comuns, construindo estratégias cotidianas de resistência e subversão aos mecanismos de opressão de gênero, classe e raça, agravados nesta sociedade colonial, marcada pela exploração tanto da terra quanto pela escravização e genocídio dos povos nativos e dos africanos. O estudo da bruxaria e das práticas mágicas, seus usos e a repressão que sofreram, guarda em si um grande potencial para lançar luz sobre a história do cotidiano e da religiosidade colonial, mas, sobretudo, sobre a história das mulheres e seus poderes subterrâneos. Neste sentido, o objeto de estudo deste trabalho foram as mulheres e os usos que elas fizeram das Práticas Mágicas e de Bruxaria em suas estratégias cotidianas para resistir as tentativas constantes de dominação pelas instituições de poder masculinas, assim como, através destas, sobreviverem, construindo espaços, ainda que limitados e temporários, de liberdade, de autonomia e solidariedade entre elas, no contexto do período colonial no Brasil. |