O que comem os excluídos? Os diferentes sentidos da comida oferecida para a população em situação de rua

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Nasser, Julia Horta
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Nutrição
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Alimentação, Nutrição e Saúde
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/22663
Resumo: Esta pesquisa busca compreender, captar, a rede de sentidos que envolve a comida oferecida para a população em situação de rua. Este estudo está inscrito no campo cientifico da Alimentação e Nutrição. Como percurso teórico-metodológico, foi construído um estudo qualitativo, de cunho bibliográfico e documental a partir das etnografias, sites, cartilhas e reportagens, das instituições religiosas, ONG’s, que distribuem comida para a população em situação de rua, bem como das pessoas que atuam no sistema de garantia de direitos, sobre a temática em tela. Para a análise dos dados foi utilizado a orientação teórica e metodológica do Interacionismo Simbólico. Os autores aos quais dialogamos são: Weber, Bourdieu, Guattari, Rolnik, Foucault e Agamben. Parte-se do pressuposto que a comida, diferente do alimento, carrega consigo os sentidos e os códigos simbólicos dos agentes envolvidos em determinada ação. Quando o sujeito come, incorpora os aspectos culturais daquilo que ingere. Os sentidos que a comida assume são produzidos a partir dos modelos de organização de uma dada sociedade e das relações de poder-saber ali estabelecidos. Considera-se população em situação de rua o grupo populacional que, não tendo moradia e, geralmente, não tendo emprego formal, usa a rua, abrigos e albergues como espaço de moradia permanente ou provisória. Ao longo do processo de pesquisa percebe-se que a comida assume diferentes sentidos. Observou-se que a comida é a necessidade básica que a população em situação de rua mais tem acesso e é um dos eixos centrais aos quais a rotina na rua se constrói. Ela define os trajetos construídos pelos moradores de rua na cidade e suas potenciais relações. A comida assume um caráter divino, devido aos atos sacros e ritos religiosos que envolvem o processo de preparo, cocção e distribuição da mesma. Observou-se também que a comida tem uma relação estreita com a noção de caridade e piedade, mas, de forma seletiva. As ações caritativas ainda transformam a comida em meio de salvação/aperfeiçoamento moral. A comida aqui assume um papel evangelizador. Algumas ações de distribuição de comida tem o mote do regate da dignidade da população de rua. Mas, na verdade, relaciona-se a determinadas concepções de ser humano que aqueles atores possuem. Essas ações têm como objetivo tornar os corpos da população em situação de rua dóceis e uteis ao trabalho, encaixando-o em subjetividades assujeitadas, adequadas as lógicas vigentes.