Efetividade de intervenção multicomponente na adesão e aceitabilidade à alimentação escolar: ensaio randomizado de base escolar de múltiplos braços em Sumidouro - RJ

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Pinto, Rafael Lavourinha
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso embargado
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/18304
Resumo: O Programa Nacional de Alimentação Escolar possui papel fundamental na promoção da alimentação saudável de milhões de escolares em todo o Brasil. Entretanto, pesquisas nacionais apontam baixa adesão e aceitabilidade à alimentação escolar na rede pública de ensino. Intervenções baseadas em arquitetura de escolhas e padronização de técnicas gastronômicas têm sido implementadas com o intuito de melhorar este cenário e estimular o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a efetividade de intervenção multicomponente na adesão e aceitabilidade à alimentação escolar. Um ensaio randomizado foi conduzido com alunos do 4o ao 9o ano de 3 escolas públicas da rede municipal de ensino da cidade de Sumidouro, Rio de Janeiro, em 2019. As escolas participantes foram alocadas aleatoriamente em três grupos: uma escola no grupo controle (sem intervenção), uma escola no grupo intervenção 1 (modificações ambientais e inclusão de sistema de autosserviço) e uma escola no grupo intervenção 2 (modificações ambientais, inclusão de sistema de autosserviço e adição de novas preparações no cardápio). A escola do grupo intervenção 1 recebeu intervenções ambientais baseadas nos princípios da arquitetura de escolhas, que consistiram em: elaboração de cartazes e displays com mensagens e imagens motivacionais para promoção de hábitos alimentares saudáveis e incentivo ao consumo da alimentação escolar; implementação de toalhas com imagens coloridas de alimentos in natura nas mesas do refeitório; alocação das frutas servidas na alimentação escolar em posição de destaque, em uma barraca de frutas; posicionamento de um banner com o cardápio das preparações diárias na entrada do refeitório; e aplicação de pegadas no chão que, de forma lúdica, direcionavam os escolares ao refeitório. Além disso, foi implementado o sistema de autosserviço, com a incorporação de um balcão térmico de distribuição de alimentos no refeitório. A escola do grupo intervenção 2 recebeu as mesmas intervenções da escola do grupo intervenção 1, com a adição da padronização de técnicas gastronômicas para alterações nas preparações culinárias que fizeram parte dos cardápios no ano letivo de 2019, além da elaboração de novas preparações a partir da identificação das percepções acerca dos motivos da não adesão à alimentação escolar relatadas em grupos focais realizados com merendeiras e escolares. A adesão à alimentação escolar (≥3 vezes na semana) foi avaliada por meio de questão inserida em questionário aplicado em três momentos (linha de base, 1o seguimento [após 5 meses de intervenção] e 2o seguimento [após 8 meses de intervenção]). Foram realizadas análises longitudinais por meio da aplicação de modelos lineares generalizados que levam em conta as medidas repetidas e os dados ausentes de desfecho dos participantes. Também foram realizadas análises do tipo piecewise, permitindo a identificação dos parâmetros no intervalo 1 (linha de base-1o seguimento) e no intervalo 2 (1o seguimento-2o seguimento). Foi observado aumento da adesão à alimentação escolar na escola intervenção 1 vs. escola controle (RR=1,20; p-valor=0,0166) e maior aumento na escola intervenção 2 vs. escola controle (RR=1,27; p-valor=0,0041). Foi possível observar também aumento da adesão na escola intervenção 1 vs. escola controle no intervalo 1 e intervalo 2 (RR=1,18; p-valor=0,0146 e RR=1,14; p-valor=0,0424, respectivamente), e maior aumento da adesão na escola intervenção 2 vs. escola controle no intervalo 1 (RR=1,22; p-valor=0,0095) e no intervalo 2 (RR=1,20; p-valor=0,0070). Não houve diferença estatisticamente significativa na variação da adesão entre as escolas intervenção 2 e 1. A aceitabilidade à alimentação escolar foi avaliada por meio da aplicação de teste de aceitabilidade referente ao cardápio servido nas escolas antes das intervenções e, aos demais cardápios, após o início das intervenções, através do uso da escala hedônica facial e verbal. Para as análises longitudinais, foram empregados modelos lineares generalizados, que levam em conta as medidas repetidas e os dados ausentes de desfecho dos participantes. Observou-se aumento significativo no índice de aceitabilidade nos grupos de preparações à base de carne bovina e doces entre os participantes da escola intervenção 1 (RR=1,36; p-valor=0,0008 e RR=3,99; p-valor=<,0001, respectivamente) e da escola intervenção 2 (RR=1,34; p-valor=0,0029 e RR=2,22; p-valor=<,0001, respectivamente), quando comparados aos da escola controle ao longo do tempo. O incremento na aceitabilidade das frutas foi maior entre os participantes da escola intervenção 2, quando comparados aos da escola intervenção 1 (RR=1,60; p-valor=0,0052). Redução da aceitabilidade de preparações à base de feijão foi observada entre escola intervenção 2 e as escolas intervenção 1 e controle (RR=0,60; p-valor=0,0003 e RR=0,57; p-valor=0,0013, respectivamente). Os resultados alcançados sugerem que intervenções multicomponentes baseadas em modificações ambientais de baixo custo e complexidade, e em modificações nos aspectos sensoriais das refeições oferecidas na alimentação escolar através da inserção de técnicas gastronômicas, podem ser efetivas para promover o aumento da adesão e aceitabilidade à alimentação escolar e, consequentemente, auxiliar na elaboração de políticas públicas voltadas à promoção da alimentação saudável.